São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Encargos dificultam geração de emprego

ANTONIO CARLOS SEIDEL
DA REPORTAGEM LOCAL

O alto custo da mão-de-obra emperra mais o desenvolvimento do mercado de trabalho industrial que a recessão econômica.
"No Brasil, onde se precisa criar 2 milhões de empregos por ano, os altos custos dos encargos sociais são um fator inibidor do mercado de trabalho", afirma o economista José Pastore.
O movimento de redução de encargos sociais na Europa foi definido pela Comunidade Européia como um "incentivo à criação de mais empregos para a mão-de-obra pouco qaulificada" de modo a torná-la "'menos onerosa para as empresas".
O custo total da contratação de mão-de-obra pelas empresas inclui, em primeiro lugar, as despesas com salários, bônus e prêmios.
As empresas têm também despesas adicionais, por força de lei ou de contrato coletivo, a fim de manter os empregados trabalhando e despedi-los legalmente.
Este conjunto de despesas adicionais são os chamados encargos sociais. Eles podem ser compulsórios (obrigatórios por lei) e voluntários (fruto de acordos entre empregados e empregadores).
A pesquisa de Pastore mostra que os encargos sociais no Brasil constituem custos fixos (a maioria é obrigatória por lei).
Segundo a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entre dezembro de 1992 e agosto de 1993, a produção na indústria paulista aumentou 46,6%, mas o número de postos de trabalho cresceu apenas 0,1%.
Pastore destaca que o mundo passa por uma enorme transformação no campo trabalhista, em especial dos encargos sociais.
"Os países desenvolvidos estão flexibilizando seus sistemas de contratação e remuneração para reduzir os encargos e transformá-los em custos variáveis".
Eles têm consciência de que as altas taxas de desempego resultaram de mercados de trabalho muito regulamentados e de encargos sociais fixos e elevados, diz.
Pastore diz que no caso brasileiro, a rigidez do sistema de remuneração foi agravada pelos direitos garantidos aos trabalhadores no capítulo 7º da Constituição de 1988.
Os encargos sociais básicos, todos fixos e compulsórios, chegam a 102% dos salários.
Para muitos, os direitos sociais da Constituição de 1988 são tidos como conquistas definitivas.
Apenas 11% dos congressistas desejavam aprovar mudanças nos direitos sociais na revisão constitucional, segundo uma pesquisa Datafolha do final de 93.
Para Pastore, este quadro está "fadado" a mudar por força da crescente competição a que o Brasil está sendo submetido.
"Para gerar mais empregos no setor formal e enfrentar a competição mundial, o país terá que flexibilizar os regulamentos que amarram seu mercado de trabalho".
Os políticos contrários à revisão constitucional e os sindicalistas defendem os direitos sociais na Constituição como uma moldura de proteção para os trabalhadores menos organizados.
Na prática, os números mostram o inverso. "O mercado informal aumenta cada vez mais pelo receio das empresas assumirem um custo fixo nviável na hora da recesão ou de uma redução da demanda", diz.
(Antonio Carlos Seidl)

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