São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994 |
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O produtor Walter Pinto morre no Rio e deixa órfão o teatro de revista
SÉRGIO AUGUSTO
O título de "rei do teatro de revista" sempre lhe caiu bem, inclusive porque, entre os maiorais do ramo, era o único a pertencer a uma dinastia. Foi do pai, Manoel Pinto, que herdou o teatro Recreio, no centro do Rio, o mais célebre e duradouro templo revisteiro do país. Antes dele, mas por apenas dois anos, se interpôs um irmão, Álvaro, sucessor imediato do velho Manoel, morto em 1938. Em Walter, sobrava o que o teatro de revista pedia: temperamento artístico, arrojo e imaginação. Quanto o irmão morreu, em 1940, arquivou o diploma de ciência contábeis e deu início à terceira, última e mais gloriosa fase das nossa "folias brejeiras". Começou com "Disso É que Eu Gosto!...", com a dupla Aracy Côrtes - Oscarito cercada de músicas que logo cairiam na boca do povo (como o samba-exaltação "Onde o Céu Azul É Mais Azul"), cenários luxuosos e uma cascata de mulheres bonitas, que antes chamavam de coristas e em breve passariam a ser vedetes. Um novo padrão de escracho e suntuosidade se impunha nos palcos, redimensionando o show biz nativo e revelando artistas que só do rádio, do disco e do cinema não podiam viver. Por muitos anos, o teatro de revista foi o melhor ganha-pão de comediantes, comediógrafos e compositores de música popular. E, naturalmente, a mais reluzente passarela com que as garotas mais certinhas do país sonhavam. Várias delas (Virginia Lane, Mara Rúbia, Elvira Pagã, Briggite Blair, Iris Bruzzi etc.) ou foram descobertas e lançadas por Pinto ou à sua sombra se consagraram. Também foi no Recreio que a comediante Dercy Gonçalves despontou para a glória. Autoritário, narcisista, com a mania de meter a mão em tudo, Pinto agia como seus modelos da Broadway, sobrepondo o nome (e até seu retrato) aos das estrelas de suas montagens. Seu slogan não era menos pretensioso: "Se você não pode ir a Paris, Paris virá até você nos espetáculos de Walter Pinto". Por seus espetáculos gozando as forças do Eixo, durante a Segunda Guerra Mundial, chegou a ganhar uma medalha do exército. Merecia ter ganho outra, quem sabe da Academia Brasileira de Letras, pelas deliciosas expressões –"É de Xurupito!", "Tem Bububu no Bobobo", "É Xique-Xique no Pixoxó"– que surgiram na marquise do Recreio. Texto Anterior: Retrospectiva marca os 90 anos de De Kooning Próximo Texto: Maior mostra de arte nacional abre amanhã Índice |
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