São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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"Moda é ter opinião", diz Fabien Baron

DA REDAÇÃO

A seguir, Fabien Baron comenta seu trabalho com os fotógrafos e analisa a produção das revistas de moda e seu papel, bem como o livro "Sex", de Madonna.
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Folha – Quando se vê um trabalho seu, quanto é realmente seu e quanto é do fotógrafo?
Baron – É um trabalho de duas pessoas, somos um time. Quanto mais forte o time, mais chances de fazer um bom trabalho. Mas ambos têm que ser fortes, não adianta trabalhar com gente incapaz. É uma relação que exige muito, envolve muita gente. Mas é o jeito que gosto de trabalhar, eu não tenho medo de trabalhar com gente mais forte do que eu.
Folha – Você tem fotógrafos favoritos, tem algum com o qual gostaria de trabalhar?
Baron – Adoro a nova geração, David Sims, Mario Sorrenti. Fiquei muito feliz em trabalhar com ambos. Eu sempre tento exigir o máximo deles e empurrá-los para frente. Dei grandes trabalhos a eles, como a campanha de Calvin Klein, que fiz com Mario. É bom trabalhar com gente como Calvin Klein, que entende o que está acontecendo, é esperto o suficiente para perceber mudanças e para arriscar, sem mesmo questionar nada.
Folha – É verdade que foi você que descobriu Kate Moss?
Baron – Não a descobri, mas fiz com que ela assinasse seu primeiro contrato nos EUA. Vi sua fotos pela primeira vez numa "Face", sorrindo, fotografado por Corinne Day e fiquei absolutamente fascinado com ela, com a foto. Achei ela tão estranha, não achei que fosse uma modelo, e sim uma amiga da fotógrafa. Achei legal ver um tipo diferente de modelo. Da segunda vez que a vi foi na "Bazaar". Ela foi até a "Bazaar"! Ela estava mostrando o seu book. Comecei a gritar: "Meu Deus, esta é a modelo que estava procurando, é ela!" Mostrei para Calvin e ele a aprovou na hora.
Folha – Qual a qualidade que você busca num fotógrafo?
Baron – Para tirar boas fotos é preciso ter a atitude certa e instinto visual. Mas não tenho regras prontas. Com meus fotógrafos tento agir como uma vitamina C. Tento instigá-los e excitá-los para que façam a melhor foto. Quero deles o melhor e quero um trabalho atual. Mas tento não me intrometer muito nas suas idéias.
Folha – O que sr. acha das revistas para as quais você trabalhou?
Baron – Gosto da "Vogue Italia", serve bem o mercado italiano. Eles estão fazendo um bom trabalho, têm uma linha jornalística, têm estilo, coisa que a "Interview" não tem. Nada mudou desde que Andy Wharhol implantou suas idéias. Eles estão perdidos. Jornalisticamente falta um ponto de vista forte, falta identidade. Eles não sabem que direção tomar. Um bom exemplo é o da revista "Allure", é confusa, mas você vê um estilo, uma identidade. Eu gosto, é jovem.
Folha – O sr. está dizendo que na moda é fundamental ter uma direção jornalística?
Baron – Definitivamente. É claro que o visual é importante, mas é preciso dar sentido às palavras e à história, fazer uma história de moda. Este é o meu objetivo na "Bazaar". Tem que haver mais opinião, as revistas têm que ser mais opinativas. Isto é moda, discutir tudo.
Folha – O sr acha então que a maioria das revistas é superficial?
Baron – Não acredito que eles saibam o que têm nas mãos. É preciso arranhar a superfície e encontrar algo mais embaixo. Eles vêm as coisas, mas não vão fundo nelas. Olham superficialmente, não querem saber, como é feita, o que tem dentro, não só dizer o óbvio. É preciso ser curioso.
Folha – Como foi fazer o livro "Sex" com Madonna, ela opinou?
Baron – O livro foi idéia dela, ela já veio com tudo pronto. Minha sugestão foi que ela fizesse com que seu livro parecesse um objeto, uma coisa misteriosa e intrigante, de voyerur mesmo. Por isso a capa metálica, por isso a embalagem prateada, cobrindo o conteúdo. Se fosse só um livro normal, ninguém iria se interessar, e "Sex" iria se tornar mais um livro de enfeite.

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