São Paulo, sábado, 23 de abril de 1994
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Franz Weissmann expõe suas 'mondrianas'

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Franz Weissmann expõe sua 'mondrianas'
O artista neoconcreto mostra pequenas esculturas e sua produção recente, uma homenagem a Mondrian
Exposição: Franz Weissmann
Sinopse: 15 esculturas em aço pintado
Onde: Gabinete de Arte (r. Artur de Azevedo, 401, Pinheiros, zona oeste, tel. 883-6322)
Quando: Abertura hoje, às 11h; até 20 de maio

Quando estava na Suíça, na casa de Max Bill, um dos maiores expoentes e fomentadores da arte concreta no mundo, Franz Weissmann se deparou com a cópia de um Mondrian. O artista suíço virou-se para Weissmann e disse: "Copiei o quadro idêntico, mas não senti nada".
"Mondrian tem tudo calculado e algo mais. Esse algo mais é a arte", diz Weissmann, 80, que inaugura hoje uma exposição de 15 esculturas no Gabinete de Arte com sua produção mais recente –as chamadas "Mondrianas".
O artista, que assinou o manifesto neoconcreto ao lado de Lygia Clark e Hélio Oiticica nos anos 50, não pensava em fazer qualquer tipo de referêcia a Mondrian com as novas peças.
"Trabalho muito a estrutura linear, com fios de aço, vergalhões. Sempre trabalhei com cores primárias. Dessa vez, procurei preencher certas áreas do espaço interno das estruturas com superfícies coloridas, sem pensar em Mondrian. Depois me chamaram a atenção para a semelhança. Mas essas esculturas nasceram livres de qualquer intenção de referência ou cópia", diz o artista.
A cor surgiu no trabalho de Weissmann em meados dos anos 70. Até então, pintava suas estruturas metálicas de preto. "De repente, senti necessidade de cor. Desde menino, queria ser pintor. Me sinto frustado por não ter me realizado na pintura. Procuro uma cor integrada ao espírito do trabalho e não apenas aplicada. Ela tem que fazer parte da própria escultura", diz.
Fora as "Mondrianas", feitas este ano, as outras esculturas de pequeno formato expostas no Gabinete de Arte são dos anos 70 e 80. O trabalho de Weissmann, representativo de um dos principais movimentos inovadores da arte no país, também estará na exposição "Bienal Brasil Século 20", a partir de amanhã.
Nascido na Áustria em 1914 e mudando-se para o Brasil aos 10 anos, Weissmann estudou na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro antes de encontrar o próprio caminho com grandes formas geométricas, cubos e círculos em chapas e estruturas metálicas.
"Também fiz esculturas figurativas. Infelizmente, estudei na escola de Belas Artes. Fugi para Minas Gerais e lá consegui me livrar desse ranço", diz.
Weissmann foi professor de um outro grande escultor brasileiro, Amílcar de Castro ("O Amílcar também queria ser pintor e parece que também não se realizou na pintura e foi me procurar", diz).
À diferença do artista mineiro, as obras de Weissmann em geral não se deixam corroer pelo tempo (são mais uma reflexão sobre o espaço e o vazio), não expõem a matéria crua, não transformam a matéria (o ferro, por exemplo) em tema –tendência que parece determinar o que se faz de melhor em escultura hoje.
"O Amílcar, que eu admiro muito, é filho do minério. Nasci na Áustria. Há uma grande diferença psicológica, ideológica. Essa necessidade da cor, das chapas pintadas, deve ter a ver com a minha origem", diz.
Weissmann não vê grandes influências de seu trabalho na escultura hoje, embora tenha participado de um dos movimentos mais fundamentais para a renovação das artes no Brasil. "A nova geração hoje está seguindo outro caminho, com as instalações, por exemplo. Acho interessante. Mas é outro pensamento. Tudo passa", diz.
O movimento neoconcreto do qual participou abria uma nova perspectiva para a produção, longe do velho e gasto dualismo entre arte figuratia e abstração.
"O neoconcretismo é uma concepção mais livre da geometria. A arte abstrata parte de um motivo pré-existente e abstrai. A arte concreta parte de uma idéia abstrata e a concretiza. Isso mudou radicalmente o conceito de arte no Brasil", diz.
Para chegar a suas formas Weissmann segue uma "lei de proporção". Vai dobrando e cortando até chegar no ponto.
"O artista é por excelência um ser intuitivo. Depois vem a teoria. É difícil explicar o ponto inicial. A idéia vem você não sabe de onde. A instituição é uma elaboração interior, que você trabalha. Ela não é espontânea. Ela fica trabalhando no interior. Um dia sai", diz.
(Bernardo Carvalho)

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