São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Plano chega fragilizado à nova moeda

SÔNIA MOSSRI ;GUSTAVO PATÚ; IVANIR JOSÉ BORTOT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano FHC se aproxima da etapa final –a criação do real– com dois obstáculos pela frente: a fragilidade do equilíbrio das contas públicas e o registro de inflação em URV (Unidade Real de Valor).
A equipe econômica teme que estes dois problemas determinem o fracasso do plano de estabilização em poucos meses, como nas tentativas anteriores.
Já os adversários do ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso na disputa presidencial dizem que o governo estaria mais preocupado em lançar o real para promover a candidatura de FHC.
"Estão realizando uma dolarização artificial e vulnerável. É um estelionato eleitoral", acusa o deputado Aloizio Mercadante (PT-SP). O deputado Delfim Netto (PPR-SP) também acha que o plano está projetado para baixar a inflação até as eleições.
Antes do namoro com os tucanos, o líder do PFL na Câmara, Luís Eduardo Magalhães (BA), e o ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães (PFL) afirmavam em janeiro que o plano não passava de "mais um estelionato eleitoral". Hoje, os caciques do PFL consideram que o plano tem chances de dar certo.
Antes mesmo do real, já há problemas com a URV, indexador criado para fazer a transição para a nova moeda. O governo detectou inflação de 5% em URV entre março e abril.
O equilíbrio das contas, base de sustentação do plano, enfrenta problemas a curto prazo devido à política de juros reais elevados.
Por conta dos juros, a dívida interna do governo federal em títulos passou de US$ 43,7 bilhões em dezembro de 93 para US$ 50,57 bilhões em março.
As contas públicas também enfrentam pressões de gastos do próprio governo e carecem de reformas que dependem de revisão constitucional.
As propostas de reformas estruturais, que permitiriam o controle definitivo da inflação, hoje se limitam a integrar o plano de governo de FHC, autor do programa econômico e virtual candidato do PSDB à Presidência. Seria a fase quatro do plano.
Fernando Henrique está convencido de que o sucesso do real dependerá de reestruturação no setor público, reforma tributária e privatização dos setores elétrico e de telecomunicações, além da quebra do monopólio do petróleo.
FHC repete sempre que essas mudanças teriam que ser feitas por qualquer candidato que chegue ao Planalto em janeiro de 95.
As propostas da fase quatro dependem de reformas na Constituição. Uma delas, elaborada pelo assessor especial da Fazenda, Edmar Bacha, é a transferência de atividades financiadas pela União para Estados e municípios.
Educação, saúde, saneamento básico e conservação e pavimentação de rodovias seriam transferidos para Estados e municípios.
FHC também quer uma reforma tributária. Uma das idéias é retomar os impostos federais sobre energia elétrica, combustíveis e lubrificantes, minerais e serviços de transportes e de comunicações.

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