São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Juro alto ameaça equilíbrio orçamentário

SÕNIA MOSSRI; GUSTAVO PATÚ ; IVANIR JOSÉ BORTOT
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O equilíbrio das contas públicas, ponto-chave do plano econômico, está ameaçado pela política de juros altos do governo e as pressões de ministros para aumentar os gastos.
Para que o plano dê certo, é fundamental que os gastos públicos não superem a arrecadação, de forma a evitar emissão inflacionária de dinheiro.
Essa estratégia fracassou no primeiro trimestre do ano e voltará a fracassar em abril. Motivo: os juros altos praticados pelo próprio governo elevaram as despesas.
A previsão das despesas com pagamentos da dívida mobiliária federal subiu 140% em relação ao projetado inicialmente. Passou de US$ 7 bilhões para US$ 17 bilhões, segundo o Banco Central.
Para complicar ainda mais os problemas de caixa do governo, os ministérios da Saúde, Transportes, Integração Regional, militares e Bem-Estar Social pressionam o Planalto por mais recursos em 94.
Num ano de eleições, o próprio presidente Itamar patrocina aumento de verbas ao exigir do Planejamento mais de US$ 100 milhões para o lançamento de programa de irrigação no Nordeste.
A previsão de gastos de US$ 17 bilhões com encargos –juros mais parcelas do principal do empréstimo– da dívida pública em 94 correponde a 85% das despesas com pagamento do funcionalismo público neste ano.
O dinheiro também seria suficente para cobrir os US$ 14 bilhões reivindicados pelo Ministério da Saúde, consumida com despesas com a rede hospitalar credenciada e vacinação.
A equipe econômica ainda reúne dados para sustentar que esse ano a arrecadação será suficiente para cobrir todos os gastos públicos.
Segundo uma conta feita pela área técnica do Banco Central, a arrecadação do governo menos os gastos obrigatórios e as despesas com os juros das dívidas interna e externa é igual a zero.
Não é o que tem acontecido. No primeiro trimestre, os gastos superaram em CR$ 186 bilhões a receita. Para abril, a previsão da equipe econômica é de novo déficit.
Segundo o secretário do Tesouro, Murilo Portugal, a culpa é dos juros, que deixaram o patamar de 16% ao ano acima da inflação, no ano passado, para encostar em 34% em março.
Não há sinal de queda dos juros. Pelo contrário, após a criação do real, as taxas podem subir ainda mais. O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, deixou claro que não pode prescindir das taxas para controlar a inflação na primeira fase de implantação da nova moeda.
Os juros elevados estimulam a população e os agentes econômicos a deixarem o dinheiro nas aplicações financeiras, ao invés de partir para o consumo ou formação de estoques. Isso evita pressões adicionais sobre os preços.
Outro argumento é que os juros precisam estar altos para atrair os dólares de investidores estrangeiros. Os recursos alimentam as reservas cambiais do BC, também fundamentais no plano econômico.(GP, SM e IJB)

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