São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Pequenos são agentes das transformações

MAILSON DA NÓBREGA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os anos 80 foram um divisor de águas na industrialização brasileira. Pelo menos três acontecimentos podem ser destacados pelo seu papel indutor de transformações:
1) o esgotamento do modelo baseado na intervenção do Estado - proteção contra a competição externa, regimes especiais de importação de bens de capital e generosos incentivos fiscais e financeiros;
2) a ocorrência, em 1981 e 1983, dos primeiros anos de recessão industrial pós-década de 30;
3) o abandono da idéia tosca de que as exportações eram uma conspiração de direita para agradar o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os credores externos.
A consequência imediata foi a mudança para melhor de atitudes em relação às teses de modernização econômica. Ampliou-se o apoio à privatização e à inserção competitiva do país na economia mundial. Aumentou a demanda para reformar o Estado e colocá-lo, de forma distinta da do passado, a serviço de um novo ciclo de desenvolvimento. O corporativismo cartorial foi encurralado, ficando restrito a certos grupos da esquerda e, óbvio, às empresas estatais e setores como os que conseguirem aprovar na Câmara o perdão de bilhões de dólares de correção monetária no crédito rural.
Em 1988, iniciou-se radical programa de modernização, abrangendo a revisão das tarifas aduaneiras, a eliminação de barreiras não-tarifárias às importações e a simplificação do comércio exterior. Esses passos foram revigorados e ampliados de 1990 em diante. O setor privado respondeu rápida e revolucionariamente mediante à adoção de novas técnicas de produção (Qualidade Total, "just-in-time", kanban, terceirização), a melhoria nas relações trabalhistas e o aumento do esforço de pesquisa e desenvolvimento. Resultado: aumentos expressivos de produtividade e de competitividade.
Em meio a tudo isso, opera-se uma mudança ainda pouco percebida, a do papel inovador da pequena empresa. Refaz-se a idéia de que o progresso técnico, essencial para o crescimento da economia e da produtividade, é uma característica própria da grande empresa e de vultosos investimentos. Estudos recentes mostram que as empresas com até 200 empregados respondem por 32,1% das inovações da indústria britânica. Um terço das inovações tecnológicas no Reino Unido nasceu de projetos que custaram menos de US$ 25 mil.
O apoio à capacitação tecnológica das pequenas empresas brasileiras tem várias justificativas. Primeiro, diante da experiência internacional, indicando a importância desse segmento empresarial no processo de inovação nos setores de móveis, calçados, instrumentos científicos e outros. Segundo, por sua dimensão social, dado o seu reconhecido papel na geração de renda e emprego no país, respondendo por 70% da mão-de-obra ocupada.
O incentivo à inovação nas pequenas empresas é uma das tarefas para as quais se deve aparelhar o Estado brasileiro no contexto de sua reforma ampla e modernizadora. Felizmente, as sementes para a multiplicação de um trabalho produtivo do setor público e da iniciativa privada nesse campo fértil já foram lançadas pelo Sebrae através de seu Programa de Apoio à Capacitação Tecnológica da Indústria. Trata-se de um esforço para estimular a criação tecnológica, a geração de idéias e a inovação propriamente dita nas pequenas empresas, incluindo apoio financeiro à realização de projetos de pesquisa e desenvolvimento, permitindo-lhes atender demandas do mercado interno e externo. É um sinal de que há espaço para induzir as pequenas empresas à inovação.

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