São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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Bairro era fundo de quintal
CARLOS HEITOR CONY
Outro general também morou ali, também era feio e também foi presidente da República, mas em outro contexto: Castelo Branco. Daí não se deve concluir afobadamente que o bairro é um celeiro cívico de gente feia e bem-sucedida na política. Luiz Carlos Prestes ali andou escondido e foi parar na cadeia. Nos tempos de glória de Copacabana, Ipanema era um fundo de quintal. Que tinha seu charme, tinha. O Arpoador era o melhor lugar do mundo para a prática de um esporte que os motéis e a violência urbana aboliram do nosso cardápio sexual: a corrida de submarino noturna. Quando entrou em moda um livro de sacanagem intitulado "Positions", o carioca cuspiu em cima. Quem nunca assistiu uma emocionante corrida noturna de submarinos no Arpoador, dentro dos primitivos fuscas e DKWs, não sabe quanto é vasta a imaginação humana e, sobretudo, a maleabilidade das mulheres. Até que um dia, sem ninguém combinar nada, a turma começou a abandonar Copacabana e a invadir o fundo de quintal. Paulinho Mendes Campos escreveu "Domingo Azul do Mar" em 1957, o título foi espinafrado pelo Mário Faustino, mas era isso mesmo: em Ipanema, sempre era domingo azul do mar. Depois, Helô Pinheiro passou pelo Veloso em direção à praia e Ipanema foi castigada indo parar no "hit" internacional graças à única música de duas partes que só tem uma: a garota cheia de graça. Meu personagem favorito de Ipanema naquele tempo não era Helô, nem Tom nem Vinicius, mas Hugo Bidet. Devia o nome à feijoada onde usou o bidê como sopeira –quem comeu se arregalou. Bidet fazia um número de caratê antológico: concentrava-se, de joelhos, suava de tanta concentração e com um urro medonho quebrava um palito de fósforo. Suicidou-se porque todas as noites sonhava com Leila Diniz. Por essas e outras nunca morei em Ipanema. Texto Anterior: Ipanema faz 100 anos sem verba para festas Próximo Texto: Celebridades criaram o mito Índice |
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