São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Celebridades criaram o mito

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

As opiniões se dividem. Uns acham que os anos dourados de Ipanema foram na época em que a casa do escritor Aníbal Machado recebia todos os pesos-pesados da intelectualidade carioca. Ou seja, nos anos 40 e 50. Como não sou daquele tempo, só posso falar dos anos dourados das décadas de 60 e 70. E eles foram realmente de ouro.
Dourados por Tom Jobim & Vinícius de Moraes, por Leila Diniz, pela Banda de Ipanema, pelo "Pasquim" e por tantos outros –gente, lugares e coisas– que também ajudaram a transformá-lo num mito nacional. Numa espécie de Greenwich Village tropical, fervilhante de alegria e garotas bonitas.
Oásis boêmio
Era um oásis, no início dos 60. Sobretudo boêmio. Em bares, hoje lendários, como Jangadeiros, Zeppelin, Veloso, Varanda e Mau Cheiro, artistas, escritores, jornalistas e parasitas de variada plumagem se confraternizavam diante de tulipas de chope e doses bem choradas de uísque.
Todas as modas e modismos decolavam de suas pistas. Algumas causaram escândalo, como o biquíni de duas peças, lançado pela alemã Miriam Etz, e a gravidez de biquíni, exposta sem complexos por Leila Diniz.
A praia, de dia ao menos, era o centro de tudo. Já dividida em tribos mais ou menos distintas, sua parte mais animada e ousada ficava defronte à Farme de Amoedo. Mais que um pedaço de areia, era uma república independente, onde nada parecia proibido. Muito menos amar livremente, fumar maconha e tomar Mandrix.
"Dunas do barato"
Quando os anos 70 despontaram no horizonte, os baianos Gil, Caetano & cia armaram ali sua barraca e as dunas da Gal, não gratuitamente chamadas de "dunas do barato", entraram para a história. Assim como o topless de Patricia Casé. E as brigas que volta e meia lutavam por uma vaga no folclore do bairro.
Sem Ipanema, os plúmbeos anos do regime militar teriam sido ainda mais insuportáveis. Por falar em regime militar, o pai da verdadeira garota de Ipanema, a musa de Tom & Vinicius, era um general que tinha por função exclusiva censurar o "Pasquim", órgão oficioso do bairro e suas loucuras. Pode? Pode. Em Ipanema, podia tudo.

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