São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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A surpresa da inflação de abril

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Os principais índices de preços que determinam o cálculo da URV pregaram uma peça na maioria do mercado financeiro em abril. E tornaram a vida dos principais consultores econômicos, que ganham seu dinheiro prevendo os índices de inflação, um verdadeiro inferno.
Também os jornalistas que pregam a falsidade da URV como indexador dos salários vão ter que guardar o silêncio por algumas semanas. Em março, os índices apresentaram grande dispersão, com IPC-Fipe chegando a 41,3%, IPCA-IBGE a 43,6% e IGP-M a 45,7%.
A URV, que é uma média aritmética destes índices, ficou em 43,3%. Os "contras" disseram que a inflação real tinha superado os 45% (medida pelo índice da FGV) e que tinha havido uma perda de quase 2%.
Em abril, os índices da FGV e do IBGE convergiram para 41% –o IPCA já divulgado de 41,3% e um IGP-M esperado da mesma ordem. O IPC da Fipe poderá superar os 45%, pressionado pelo aumento sazonal do vestuário e dos aluguéis, levando a variação da URV para algo próximo dos 42,5%.
Os pessimistas podem usar o número mais alto da Fipe e manter a crítica contra a proteção da URV. Mas o bom senso nos diz que a inflação ficou relativamente estável em março e abril e que as grandes pressões inflacionárias do primeiro momento acalmaram-se.
Para melhor visualizar este fenômeno, basta comparar o IPA do IGP-M, que mede a variação dos preços do atacado, de março (45,7%), com o esperado para este mês (cerca de 37%). Uma queda de quase 10%. A FGV avisou ainda que seus preços no atacado podem não estar captando os descontos nas vendas em URV.
No caso do varejo, a queda medida pelo IBGE é menos expressiva porque o comércio está aumentando sua margem de lucro para compensar a perda de ganhos financeiros no open. Este processo, que também afeta o IPC da Fipe, vai continuar em maio, em ritmo mais lento.
No próximo mês, os índices de preços, medidos ao nível do consumo, estarão ainda influenciados pelo vestuário e devem ter alta em relação a abril. De qualquer forma, o mercado espera um aumento da inflação, embora não em níveis tão elevados (mais de 46%) como era esperado há alguns dias.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 51, engenheiro, é diretor do Banco Matrix S/A e professor do curso de doutorado do Instituto de Economia da Unicamp.

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