São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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Crise derruba títulos de empresas nacionais
NILTON HORITADA REPORTAGEM LOCAL
Os papéis não estão sendo renovados. Os investidores preferem resgatar o dinheiro aplicado nestes eurobônus por causa da elevação dos juros dos Estados Unidos, movimento que provocou uma crise no mercado de capitais mundial. Coincidiu a elevação do juro americano com abril e maio. Estes meses marcam o aniversário do primeiro grande lote de eurobônus, títulos que começaram a ser emitidos por firmas brasileiras em 1991. Venceram papéis de sete empresas brasileiras em abril, totalizando US$ 385 milhões. Os quatro resgates que faltam até o final de maio somam mais US$ 120 milhões. Até hoje, já foram colocados US$ 13,385 bilhões em eurobônus. A curto prazo, a tendência é de o dinheiro retornar para o bolso dos aplicadores internacionais que compraram os papéis. O resgate desta primeira leva de vencimentos significa muito dinheiro. No ano, o Brasil emitiu apenas US$ 688 milhões em eurobônus. Os títulos não renovados representam cerca de 80% disso. Como os dólares entram no país e ficam guardados no Banco Central, formando as reservas internacionais do país, que somam cerca de US$ 36 bilhões, o investimento não renovado vai representar a redução deste volume. O Bamerindus, por exemplo, resgatou um vencimento de US$ 80 milhões em eurobônus em 3 de abril. "Foi tudo pago e agora esperamos o melhor momento para voltar a vender nossos papéis ao mercado", afirma Vicente Teixeira, diretor financeiro do banco. "Por enquanto, o mercado internacional está muito confuso." Outro grande vencimento, de US$ 100 milhões, ocorreu com papéis do Unibanco, em 7 de abril. "Decidimos recuar e esperar um pouco", explica Luiz Fernando Azevedo Resende, diretor da instituição. "O bom senso recomenda calma." O resultado da saída deste capital do Brasil explica o saldo negativo na conta cambial financeira neste mês. Até o dia 20, saiu mais dinheiro que entrou no país, o que significou US$ 150 milhões. O volume de reservas do país, porém, continua bom em razão das operações cambiais do comércio internacional. Neste item da contabilidade nacional, também até o dia 20, há um saldo positivo de US$ 1,8 bilhão. O problema é igual para todos os países latino-americanos. Desde fevereiro, quando houve a primeira elevação do juro americano, houve apenas uma tentativa de venda de eurobônus ao mercado internacional. O Bancomer, do México, tentou mas teve de recuar sem nenhum tostão no bolso. Algumas empresas brasileiras estavam dispostas a renovar suas posições. Para isso, porém, teriam de pagar o dobro de juros que vinham oferecendo antes da crise internacional. O Banco Central brecou as tentativas. Hoje, o BC não permite uma taxa acima de 5,5% além do título do Tesouro americano, contra os mais de 7% ao ano que os especialistas consideram como preço mínimo para o êxito de uma operação. "Há uma preocupação e um certo monitoramento do BC por causa do impacto interno do ingresso de dólares no país", explica Antônio Carlos Simões Correa, diretor do ABN Amro, ex-Banco Holandês. "Com a crise internacional, as operações pararam de vez e isso facilita a vida do BC." Para Jordi Wiegerinck, vice-presidente do ING Bank, o BC está sensível à nova realidade do mercado internacional. "Todo mundo tem noção das taxas do mercado internacional. O BC apenas avalia as situações para evitar abusos." Texto Anterior: Cuidado ao comprar imóvel Próximo Texto: Emissão de US$ 1 bi reforça lastro do real Índice |
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