São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Emissão de US$ 1 bi reforça lastro do real

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de toda a crise internacional, o governo brasileiro iniciou contatos com os agentes especializados na emissão de eurobônus para montar operação de venda de US$ 1 bilhão.
Será o primeiro lançamento de eurobônus do governo brasileiro em praticamente duas décadas. O papel vai sair a mercado em nome do Tesouro Nacional e o dinheiro não terá impacto inflacionário, além de representar um financiamento de prazo mais longo, por volta de 5 anos.
Ou seja, os dólares não vão entrar no país, o que faria aumentar o volume de dinheiro em circulação. Segundo a teoria econômica, mais dinheiro significa mais consumo e, por consequência, mais inflação, pois provoca um desequilíbrio entre a oferta e a procura.
Os dólares ficarão depositados em algum banco internacional, possivelmente o BIS (Banco de Compensação Internacional), o agente financeiro que hoje detém a guarda das reservas internacionais brasileiras.
A operação terá o objetivo de criar um colchão de segurança para o país. Servirá para reforçar o lastro em moeda forte do real depois que o país começar a conviver com a nova moeda, que vai substituir o cruzeiro real.
"O país vai entrar em um momento de estabilização e se tiver um volume grande de reservas, haverá mais tranquilidade", explica Carlos Alberto Frederico, representante do Crédit Suísse First Boston, um dos convidados a participar a operação.
Além do First Boston, estão entre os agentes convidados o Citibank e o Chase Manhattan Bank. Segundo Charles Spragins, diretor do Citibank, o lançamento de eurobônus do governo brasileiro é o caminho natural depois do fechamento do acordo da dívida externa.
"É um idéia excelente", afirma. "Acho difícil a emissão acontecer agora por causa das condições do mercado internacional. Mas acredito na normalização em pouco tempo."
Segundo Frederico, um lançamento do porte imaginado para o Brasil representa um trabalho de preparação de no mínimo dois meses. "O governo não está com pressa, o que dá tempo para a situação internacional se acalmar", afirma.
"A principal vantagem da operação é que, depois do real, haverá melhores e piores dias, quando a turma poderá começar a apostar contra a nova moeda. Com mais dólares, o governo fica mais tranquilo para monitorar a situação", acrescenta.
Apostar contra a moeda significa o movimento que os especuladores fazem quando não sentem firmeza na condução da economia de um país. Começam comprando lotes e lotes de dólares, apostando que o governo local vai acabar desvalorizando sua moeda.
Atualmente, os principais operadores mundiais deste mercado estão mantendo reuniões com o governo brasileiro para definir o volume, a taxa e as condições de venda.(Nilton Horita)

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