São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Incerteza breca lançamentos

NILTON HORITA
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento dos juros dos Estados Unidos interrompeu uma corrida por dólares iniciada em 1991. Segundo Carlos Alberto Frederico, representante do Crédit Suísse First Boston, a expectativa do mercado era de que haveria uma emissão de um volume de US$ 30 bilhões após a assinatura do acordo da dívida externa.
"Essa previsão se frustrou", afirma Frederico. US$ 30 bilhões representa quase a mesma coisa que 100 milhões de brasileiros mantêm aplicado na poupança, cujo patrimônio soma US$ 28 bilhões. O eurobônus tornou-se um sucesso entre empresas e bancos.
Através da venda deste título, um papel semelhante a um CDB (Certificado de Depósito Bancário), mas de longo prazo e também emitido por empresas não financeiras, as firmas brasileiras engordaram seus caixas com dólares que custavam muito pouco em relação ao juro interno.
Aquelas empresas que não tinham como chegar a este mercado, mesmo assim conseguiram acessar os dólares mais baratos, indiretamente, através dos bancos. A instituição vendia o eurobônus e depois repassava os dólares para a empresa, cobrando uma diferença.
A taxa paga pelos papéis brasileiros, mais recentemente, antes da elevação dos juros americanos, ficaram entre 3,5% e 4,5% ao ano, mais a variação do título do Tesouro americano.
No mercado financeiro interno, o custo do dinheiro primário é de 2,5% reais ao mês. "Este é um grande mercado e ele não vai acabar para o Brasil", afirma Jordi Wiegerinck, vice-presidente do ING Bank. "É uma questão de tempo e de preço. O Brasil, afinal, ainda tem eleições e a estabilização econômica pela frente."
A questão do momento é tentar identificar qual será o novo preço que o investidor internacional estará disposto a pagar por um papel brasileiro. "Há emissores de monte no Brasil, mas cada um deles deve redefinir um novo juro", diz Charles Spragins, diretor do Citibank.
Frederico, do First Boston, concorda. "A crise é mundial", afirma. "Mas um dia vai melhorar e quando isso acontecer, acho que os emissores brasileiros deverão trocar o lançamento de papéis prefixados por outros, pós-fixados."
Até agora, cerca de 95% dos eurobônus vendidos pelo Brasil são constituídos por papéis prefixados. Com a elevação dos juros americanos, os investidores começaram a ganhar menos prêmio na relação custo-benefício entre aplicar em um papel brasileiro e uma letra do Tesouro dos Estados Unidos.
Por esta razão, explica Frederico, as empresas brasileiras poderiam pensar em emitir eurobônus com taxas flutuantes, que acompanhem as variações dos juros.(NH)

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