São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Montoro diz que objetivo era pôr fim à 'ditadura'

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

André Franco Montoro era há dez anos governador de São Paulo (governou de 1983 a 1986). Foi na época considerado um dos políticos mais empenhados na decolagem da campanha das diretas.
Ele hoje é um dos dirigentes nacionais do PSDB e preside o Ilam (Instituto Latino-Americano), entidade criada para trabalhar pela integração continental.
Nessa entrevista à Folha, Montoro admite que, apesar da mobilização dentro e fora de seu partido, na época o PMDB, a prioridade não estava na sucessão de Figueiredo pelo voto popular.
O que importava, diz ele, era conseguir "acabar com a ditadura", um objetivo alcançado com a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral.(JBN)Folha - O sr. contava a 25 de abril com a derrota da emenda Dante, ou ainda acreditava que ela poderia passar?
Franco Montoro - Estávamos em dúvida sobre o resultado, mas ao mesmo tempo nos preparávamos para a continuidade da luta.
Folha - Esses preparativos pressupunham a possibilidade de ir ao Colégio Eleitoral?
Montoro - Sem dúvida alguma.
Folha - O PT acusou na época o PMDB de, por meio da campanha pelas diretas, preparar-se para a sucessão indireta do presidente Figueiredo.
Montoro - Os fatos mostraram que o PT cometeu naquele instante um erro histórico.
Terminada a campanha das diretas, nós continuamos na luta e conseguimos acabar com a ditadura, com a eleição de Tancredo.
Manter-se firme num princípio, sem levar em conta as finalidades que se busca, é bom em poesia ou literatura. Não em política.
Folha - A campanha não teria, então, instrumentalizado o Colégio Eleitoral?
Montoro - Veja bem: a campanha levou um número muito grande de deputados ligados ao governo a votarem na Dante de Oliveira.
Cito, como exemplo inverso, o caso de alguns deputados do PDS que não puderam por muitas semanas voltar a suas cidades -tinham medo até de serem linchados- porque votaram contra.
Folha - Quais foram eles?
Montoro - Seria indelicado citá-los. Eles ainda estão vivos.
Folha - Caso as diretas tivessem passado, quem teria sido o candidato à Presidência pelo PMDB? O sr. ou o deputado Ulysses Guimarães?
Montoro - Teria sido o Tancredo Neves mesmo.
Folha - A decisão de que ele seria o candidato já havia sido tomada quando a campanha das diretas ainda estava nas ruas?
Montoro - O que havia eram consultas, feitas sem data ou hora marcadas. O consenso foi-se formando aos poucos. Tancredo era um homem talhado como o candidato que poria fim à transição.
Folha - O nome do candidato precisaria então ser menos vinculado aos movimentos que fizeram a campanha das diretas, e mais predisposto a cindir o PDS no Colégio Eleitoral?
Montoro - O que se procurava era um homem capaz de encaminhar o processo pacificamente.
O objetivo era a normalização democrática.
Folha - Caso Mario Andreazza tivesse se tornado o candidato presidencial do PDS, a cisão na bancada do governo teria sido tão grande?
Montoro - É difícil dizer. Mas com certeza a indicação de Paulo Maluf nos falicitou as coisas.
Folha - Falou-se naquela época de um grande consenso nacional que envolveu empresários e os levou a doar dinheiro para a campanha das diretas.
Montoro - Isso não é verdade. Em absoluto não foi verdade. A campanha foi popular, sem maiores despesas.
Folha - O sr. chorou de emoção em algum momento?
Montoro - Sim, muitas vezes.
Folha - E chorou de tristeza?
Montoro - Todos nós choramos na madrugada em que a emenda Dante de Oliveira foi derrotada.

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