São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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Montoro diz que objetivo era pôr fim à 'ditadura'
JOÃO BATISTA NATALI
Ele hoje é um dos dirigentes nacionais do PSDB e preside o Ilam (Instituto Latino-Americano), entidade criada para trabalhar pela integração continental. Nessa entrevista à Folha, Montoro admite que, apesar da mobilização dentro e fora de seu partido, na época o PMDB, a prioridade não estava na sucessão de Figueiredo pelo voto popular. O que importava, diz ele, era conseguir "acabar com a ditadura", um objetivo alcançado com a eleição de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral.(JBN)Folha - O sr. contava a 25 de abril com a derrota da emenda Dante, ou ainda acreditava que ela poderia passar? Franco Montoro - Estávamos em dúvida sobre o resultado, mas ao mesmo tempo nos preparávamos para a continuidade da luta. Folha - Esses preparativos pressupunham a possibilidade de ir ao Colégio Eleitoral? Montoro - Sem dúvida alguma. Folha - O PT acusou na época o PMDB de, por meio da campanha pelas diretas, preparar-se para a sucessão indireta do presidente Figueiredo. Montoro - Os fatos mostraram que o PT cometeu naquele instante um erro histórico. Terminada a campanha das diretas, nós continuamos na luta e conseguimos acabar com a ditadura, com a eleição de Tancredo. Manter-se firme num princípio, sem levar em conta as finalidades que se busca, é bom em poesia ou literatura. Não em política. Folha - A campanha não teria, então, instrumentalizado o Colégio Eleitoral? Montoro - Veja bem: a campanha levou um número muito grande de deputados ligados ao governo a votarem na Dante de Oliveira. Cito, como exemplo inverso, o caso de alguns deputados do PDS que não puderam por muitas semanas voltar a suas cidades -tinham medo até de serem linchados- porque votaram contra. Folha - Quais foram eles? Montoro - Seria indelicado citá-los. Eles ainda estão vivos. Folha - Caso as diretas tivessem passado, quem teria sido o candidato à Presidência pelo PMDB? O sr. ou o deputado Ulysses Guimarães? Montoro - Teria sido o Tancredo Neves mesmo. Folha - A decisão de que ele seria o candidato já havia sido tomada quando a campanha das diretas ainda estava nas ruas? Montoro - O que havia eram consultas, feitas sem data ou hora marcadas. O consenso foi-se formando aos poucos. Tancredo era um homem talhado como o candidato que poria fim à transição. Folha - O nome do candidato precisaria então ser menos vinculado aos movimentos que fizeram a campanha das diretas, e mais predisposto a cindir o PDS no Colégio Eleitoral? Montoro - O que se procurava era um homem capaz de encaminhar o processo pacificamente. O objetivo era a normalização democrática. Folha - Caso Mario Andreazza tivesse se tornado o candidato presidencial do PDS, a cisão na bancada do governo teria sido tão grande? Montoro - É difícil dizer. Mas com certeza a indicação de Paulo Maluf nos falicitou as coisas. Folha - Falou-se naquela época de um grande consenso nacional que envolveu empresários e os levou a doar dinheiro para a campanha das diretas. Montoro - Isso não é verdade. Em absoluto não foi verdade. A campanha foi popular, sem maiores despesas. Folha - O sr. chorou de emoção em algum momento? Montoro - Sim, muitas vezes. Folha - E chorou de tristeza? Montoro - Todos nós choramos na madrugada em que a emenda Dante de Oliveira foi derrotada. Texto Anterior: PMDB aposta no Colégio Eleitoral Próximo Texto: Crise renal de Brizola adiou comício no Rio Índice |
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