São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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Presidente sempre quis parecer agressivo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O historiador e psicanalista Bruce Mazlish defendeu em seu livro "In Search of Nixon" (À Procura de Nixon, 1972) a tese de que o sentimento fundamental do presidente era o medo de parecer mole, passivo.
A vida política de Nixon parece confirmar a teoria. Ele sempre fez questão de parecer muito agressivo, durão, o dono da iniciativa.
Assim, na ofensiva, ganhou sua primeira eleição em 1946. Quase sem medida de limites, acusando qualquer um de comunismo, tornou-se um dos líderes do macartismo nos anos 50.
Como vice-presidente de Eisenhower, era enviado por seu chefe para missões "impossíveis" no exterior: enfrentar ovos na Venezuela, bater boca com Krushev em Moscou em defesa do "American way of life".
Dava certo e Nixon achou que sempre daria. Foi enfrentar John Kennedy com o mesmo estilo na eleição presidencial de 1960, a primeira da história a contar com debate ao vivo pela TV.
Kennedy foi para a praia, descansar, nas vésperas do debate. Nixon ficou em casa, estudando. O resultado foi um Kennedy bronzeado, descontraído e um Nixon tenso, com olheiras, a barba cerrada com a aparência de não-feita, o dedo quase sempre em riste, ameaçador, carrancudo.
Nixon perdeu a Casa Branca e ganhou um pouco de humildade. Oito anos depois, aceitou os conselhos dos assessores de imagem. Passou a barbear-se três vezes por dia, trocou as gravatas escuras pelas claras, sorriu.
Chegou à Presidência e readquiriu a autoconfiança, tão grande que chegava à arrogância. Enfrentou Watergate com a certeza da impunidade. Tentou evitar sempre cair na defensiva. Acirrou a desconfiança em relação a todos que o cercavam.
Renunciar foi, sem dúvida, a decisão mais difícil de sua vida, por contrariar o núcleo de suas convicções.(CELS)

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