São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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Nixon fez sucesso em livros, filmes e teatro
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVADE WASHINGTON
No entanto, seu drama humano e político inspirou muitos artistas a escreverem, comporem e dirigirem obras de arte a seu respeito. A mais complexa e menos conhecida delas é o filme "Secret Honor" (Honra Secreta, 1984), de Robert Altman. Feita no período de exílio de Hollywood do autor, a fita teve pequena divulgação. Altman trabalhou com uma equipe de estudantes da Universidade de Michigan. O texto serviu primeiro para uma peça de teatro, depois para o filme. É um monólogo, de proporções shakespeareanas, em que o personagem Richard Nixon se defronta, numa noite em agosto de 1974, com a alternativa entre renunciar com vergonha pública e se suicidar com honra secreta. O caráter melancólico, megalômano, paranóico, da personalidade de Nixon é realçado de forma convincente pelo ator Philip Bakker Hall, que não teve nenhum outro papel importante no cinema depois deste. Bêbado, o Nixon de Altman tem diálogos cômicos e trágicos com os retratos de seus predecessores nas paredes da Casa Branca, nos quais revela mágoa, inveja e ressentimento, em especial contra Kennedy e Eisenhower. Muito mais conhecido é o filme "Todos os Homens do Presidente" (1976), de Alan Pakula, com Robert Redford e Dustin Hoffman nos papéis dos repórteres do jornal "The Washington Post" que investigaram Watergate. A presença de Nixon ali é indireta. A imagem dele que aparece na tela é a real, retirada de documentários e reportagens. Mas o presidente que odiava jornalistas e intelectuais é o alvo não só da ação dos personagens principais como do próprio diretor. Pakula tentou obter com "Todos os Homens" efeito parecido com o de Steven Spielberg em "A Lista de Schindler": lembrar para não repetir. Muito mais generosa com Nixon foi a maneira como ele foi representado na ópera de John Adams "Nixon na China" (1987), feita numa época em que sua reabilitação pública já era notória. A autora do libreto, Alice Goodman, exigiu que o trabalho tivesse um tom heróico, não satírico. Adams tinha o mesmo objetivo em mente. Ela é inglesa, mas estudou em Harvard, onde conheceu o diretor da ópera, Peter Sellars. Segundo Goodman, o Nixon da ópera se parece muito com o real porque os dois são "polifônicos", multifacetados. Na ópera, Nixon diz a Mao Tse-tung, pela voz de James Madallena: "Os olhos e os ouvidos da história/Capturam cada gesto nosso/Enquanto nós fazemos a história./Nosso aperto de mãos/Moldou novos tempos". A ação da ópera, encenada em Houston em 1987 e no Kennedy Center em Washington em 1988, se passa na semana de 21 a 27 de fevereiro de 1972, quando Nixon visitou a China. Ele nunca assistiu a encenação da ópera, mas ganhou o disco dos autores e amigos disseram que ele gostou do que ouviu. Texto Anterior: Presidente sempre quis parecer agressivo Próximo Texto: Maior legado foi o desmonte da Guerra Fria Índice |
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