São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994
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GAROTAS DO SÉCULO 21

MARIA ERCILIA GALVÃO BUENO

Adriana Lessa, 23, VJ da MTV: "Mulata é um termo superpejorativo, vem de mula, vem dos senhores que se serviam das escravas como de animais"
"Feminismo e lesbianismo muitas vezes chegam a se confundir", afirma Suzi Capó, 33. Suzi dirige o Festival Mix Brasil, que está em sua segunda edição. Para Suzi (a quem possa interessar, ela é lésbica), estereótipos das feministas e das lésbicas são semelhantes. Ela tem um ponto de vista diferente do assunto, já que morou cinco anos nos EUA. "Tive contato com as feministas mais acadêmicas, porque o assunto de minha tese de mestrado foi feminismo aplicado a 'performance arts'."
Suzi trouxe dos EUA no ano passado o Gay and Lesbian Film Festival de Nova York, que foi apresentado em várias cidades brasileiras. Este ano, o festival ocorre de 11 a 18 de outubro, e será co-produzido pelo Museu da Imagem e do Som. Suzi e o outro diretor do festival, André Fischer, convidaram vários curadores que apresentarão programas que vão de Aids e educação sexual à experiêcia dos gays em Cuba. A própria Suzi é responsável por um dos programas, "Homossexualidade e política". "Só não tem dinheiro. O trabalho é todo mais ou menos voluntário. Estou dando aulas de inglês para me manter."
Só para não destoar, Suzi não se interessa por militância, embora seu trabalho tenha naturalmente um cunho político. Ela enxerga no Brasil um potencial bissexual, de uma sexualidade mais fluida que a americana, onde tudo é compartimentalizado.
Adriana Lessa, 23, considera que ser mulher não é a parte mais complicada de sua vida. "Por ser negra sim, já fui discriminada. VJ da MTV desde dezembro de 1993, Adriana trabalhou em "Macunaíma" e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga", de Antunes Filho. "No Brasil, as pessoas simplesmente não assumem o que elas pensam. Uma vez um amigo meu escreveu numa ficha, quando procurava emprego, que ele era branco. Quando o chamaram, ole afirmou que se não tivesse feito aquilo estaria fora da seleção."
Adriana entra no coro unânime das mulheres que se recusam a levantar bandeira. "Nunca me senti encurralada, embora já tenha enfrentado situações desagradáveis. Uma vez pedi um aumento de cachê, porque tinha de gravar uma semana inteira e não tinha tempo de voltar para casa. Queria ficar num hotel. O diretor disse para eu passar na casa dele para conversar... é claro que eu não fui."

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