| São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
|
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
GAROTAS DO SÉCULO 21
MARIA ERCILIA GALVÃO BUENO Tati Kwiezynski, 15, assistente de produção: "Se você souber ser esperta, sai na boa do machismo, sacou? Isso é culpa da mulherada. Eu driblo legal e vivo entre homens"Adriana sente mais responsabilidade pelo fato de ser negra. "Muitas vezes recebo cartas de negros, dizendo que se sentem felizes de me ver no vídeo, que agora podem se identificar com alguém. É muito bom ter essa resposta. Por outro lado, achei que ia enfrentar algum tipo de preconceito aqui na MTV, mas isso não aconteceu." "Não existe feminismo nem machismo", radicaliza Tati Kiezynski, 15 anos. "Se você souber ser esperta, sai na boa do machismo, sacou? Eu driblo legal, e vivo num meio que tem homem pra caralho." Tati trabalha no selo independente Banguela, do seu namorado Miranda, 32. Ela está preparando o fanzine "Sem Dentes", que vai sair junto com os cinco primeiros discos do selo. "Além disso, sou assistente de produção, estou gravando com umas bandas no estúdio Bebop. Ligo cabo, desligo cabo, compro cigarros para o pessoal. Estou aprendendo pra caralho. Ontem fiquei na mesa de som, no Festival SuperDemo (Aeroanta). É demais, você sente o som saindo dos seus dedos." Tati largou a escola no ano passado, estuda bateria e quer ter uma banda. Sua mãe, que é apenas 16 anos mais velha que ela, foi quem a apresentou ao namorado. "Minha mãe é do caralho, ela faz um monte de coisas. Ela trabalha em feiras, tipo feira do automóvel, faz teatro e agora está fazendo bombons." Tati seria o pesadelo de uma mãe mais tradicional. Mora com o namorado, faz questão de beber e fumar pra burro, adora filmes de terror e desenho animado. "Quero fazer uma tatuagem do Pica-Pau, daquele bem loucão." Ela mesma furou o nariz com uma alfinete e um mertiolate, e depois tomou um antiinflamatório. Desfila para Alexandre Herchcovitch –o mais queridinho entre os novos estiliistas–, apesar de odiar o carão das modelos. "Desde que eu tinha 12 anos, eu namorava cara assim de 20. Sempre fui mulherão, com 10 anos eu já tinha peito. A primeira caixinha de pílula anticoncepcional que eu tomei foi agora, esqueci um monte de dias, minha mãe ficou furiosa". E a Aids? "Acho que se o Miranda tiver o mínimo de amor-próprio, ele vai trepar com outra mina de camisinha. No começo do namoro, a gente trepava de camisinha. A pílula aumentou meus peitos, sacou, aí eu gostei." Deu para notar que Betty Friedan é totalmente inútil para Tatiana Kwiezynski, certo? Texto Anterior: GAROTAS DO SÉCULO 21 Próximo Texto: Feministas do Brasil cozinham clichês e ficam para trás Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |