São Paulo, domingo, 24 de abril de 1994 |
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Feministas do Brasil cozinham clichês e ficam para trás
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES É natural que as garotas deste fim de século dêem de ombros quando ouvem falar em movimento feminista. A face mais visível do feminismo brasileiro tem oscilado sempre entre o mau-humor e a ingenuidade, comprazendo-se em requentar um cardápio de idéias superadas.A mulher ideal desse feminismo de manicure ainda guarda os ares da personagem vivida por Regina Duarte na insuperável série de TV "Malu Mulher". Embora não se filie ao movimento, a atriz conseguiu cozinhar no vídeo um suculento caldeirão de clichês em torno dos ideais da "emancipação" feminina. Este retrato de mulher "inteligente e emancipada" não é, infelizmente, apenas ficcional. O tipo existe. Pode ser admirado, por exemplo, em performances da entrevistadora Bruna Lombardi e passeia sempre sob os "tailleurs" da sexóloga Marta Suplicy, emblema do nosso feminismo de salão. Outra conhecida representante do movimento, a jornalista e editora Rose Marie Muraro, mais atenta às discussões que se travam na Europa e nos Estados Unidos, muitas vezes não se contém. No programa "Fantástico" classificou Branca de Neve e Bela Adormecida de "paspalhas" –comentário que o colunista "Zózimo", do jornal carioca "O Globo", devolveu com um direto: "A bruxa é que deve ser do cacete". De qualquer forma, Muraro não é mais feminista. Agora é "pós-feminista" e diz que quer "recolocar o desejo como categoria epistêmica" –se é que se entende isto. Muraro ainda está um grau abaixo da norte-americana Camille Paglia, que se autodenomina "antifeminista". Expressão tagarela da crise do movimento, ela gosta da mídia e de Madonna, adora proclamar seu bissexualismo (quem terá sido o rapaz?) e não vive sem disparar frases de efeito para "chocar" velhotas e militantes puritanas. Paglia está para o feminismo como Boris Ieltsin está para o comunismo. É um símbolo da decadência. Sem similar nacional, foi acolhida de braços (e pernas) abertos no Brasil. Neste crítico final/começo do milênio, uma voz forte das ruas, a música rap, é predominantemente macha e renominou as mulheres (mesmo as queridas) de "bitch" –vagabunda na versão dos grupos nacionais. Texto Anterior: GAROTAS DO SÉCULO 21 Próximo Texto: Contorno vira fumaça Índice |
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