São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 1994
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Mercedes comprou mais barato

DO EDITOR DO PAINEL S/A E DA REPORTAGEM LOCAL

A Mercedes-Benz do Brasil adquiriu da Trace equipamentos de ensino iguais aos importados pelo governo Quércia (1987-1991), mas optou por comprar alguns componentes mais baratos no mercado nacional.
O principal argumento para a dispensa da licitação usado pelo governo Quércia foi o de que não havia equipamentos similares.
Em depoimento ao juiz Casem Mazloum, da 4ª Vara Criminal Federal, Carlos Ferreira Manaia, coordenador de Desenvolvimento Técnico da Mercedes-Benz, confirmou a opção da empresa.
Nesse inquérito, Arie Halpern, da Trace, foi denunciado por suspeita de corrupção ativa, fraude processual e corrupção de perito.
A Trace vendeu ao governo Quércia e à Mercedes-Benz o sistema EB-2000 da Degem Systems, destinado a cursos de eletrônica.
Manaia disse que, no mercado nacional, "havia componentes similares, que desempenhavam a mesma função". E "o produto nacional era um pouco mais barato".
Manaia disse que "havia uma filosofia da empresa no sentido de adquirir bens no mercado interno quando podiam ser encontrados".
O professor Eduardo Cesar Alves Cruz, da Escola Técnica George Street, ligada à Unesp, disse ao juiz Mazloum que "muitos dos equipamentos não estavam relacionados no catálogo mostrado".
Cruz disse que alguns equipamentos "possuíam similares nacionais" e havia "aparelhos semelhantes no Brasil, que desempenham a mesma função didática".
Ele disse que nem todos os equipamentos da Unesp haviam sido vistos nos catálogos. Disse que "os professores não sabiam exatamente" o que seria importado.
Cruz conhece os equipamentos adquiridos pela Mercedes-Benz e afirmou ao juiz que o importado pelo governo Quércia é "igual" ao comprado pela indústria.
Compras da PM
No mesmo inquérito depôs o tenente-coronel Eduardo Correia Cavalcanti, ex-chefe do CSMM/Tel (Centro de Suprimento de Material de Telecomunicações da PM).
Cavalcanti confirmou que assinou o contrato para a compra do sistema de radiocomunicação da Polícia Militar um dia antes de assumir a unidade de despesa da PM.
Segundo ele, "o primeiro passo" para essa aquisição foi o protocolo firmado entre Quércia e o ex-cônsul de Israel, Tzvi Chazan.
Quércia argumenta que as importações não têm relação com o protocolo.
Outro motivo alegado por Cavalcanti para assinar o contrato foi um despacho assinado pelo governador Luiz Antônio Fleury Filho, à época secretário de Segurança Pública.
"Era um despacho provindo de escalão superior", disse o oficial. Ele substituiu o tenente-coronel Fernando Balestrero Flório, afastado da chefia do órgão por se recusar a assinar o contrato.

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