São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Personalidades vão defender 'desaparecidos'

DA REPORTAGEM LOCAL

A Seção Brasileira da Anistia Internacional lançou ontem na Universidade de São Paulo (USP) a "Campanha contra 'Desaparecimentos' e Execuções Extra-Judiciais" ocorridos em vários países.
A Anistia é uma entidade apartidária de defesa dos direitos humanos. Foi fundada em 1961, tem sede em Londres e representantes em cerca de 150 países. Vive do trabalho de voluntários e de doações não-governamentais.
Durante os próximos 40 dias, a campanha da Seção Brasileira contra os "desaparecimentos e execuções extra-judiciais" tentará chamar a atenção para o perfil humano, a história pessoal e a individualidade de cada uma das vítimas. Essas costumam aparecer em listas apenas com seu nome sob a rubrica "desaparecido".
Trata-se de "pessoalizar o sofrimento, mostrar que as pessoas que foram torturadas e mortas ou estão sumidas têm história, amigos, parentes, carne e osso", explica Carlos Alberto Idoeta, presidente da Seção Brasileira da Anistia.
Para alcançar seu objetivo, o movimento destacou seis casos de "desaparecidos" em diferentes países e escolheu para cada um deles um ou dois representantes entre personalidades brasileiras, que estão sendo chamados de "embaixadores da esperança" (veja o quadro ao lado).
Os "embaixadores" devem nos próximos 40 dias, através de entrevistas, relatos e artigos na imprensa, apresentar quem são as vítimas que representam, quais violações sofreram, quem são os responsáveis por elas e como agiram ou deixaram de agir os governos de seus respectivos países.
O cientista político Paulo Sérgio Pinheiro, um dos "embaixadores" escolhidos pela Anistia, diz que a campanha deve, além de ressaltar a individualidade das vítimas, "atacar a ambivalência dos Estados em relação à violência".
"Se, por um lado, o Estado é a instância onde se efetiva e se faz cumprir a lei e a Justiça, também é o mesmo Estado que em diferentes países vem perpetrando os maiores crimes contra os direitos humanos", disse Paulo Sérgio.
O artista plástico Luís Paulo Baravelli, que ao lado do rabino Henry Sobel, é "embaixador" do indiano Harjit Singh, fez o relato mais "pessoal" durante o lançamento da campanha na USP.
Baravelli disse que, ao reexaminar recentemente antigas fotos suas, achou uma velha de 30 anos muito parecida com a de Singh. "Vendo tudo que fiz durante esses anos todos e tudo que ele não pôde fazer, percebi que eu sou o Singh que não morreu", disse.
A escritora Lygia fagundes Telles, outra "embaixadora" da Anistia, disse que, depois de passar a vida criando personagens fictícios, vai pela primeira vez "encarnar uma pessoa que existiu". "A pior das covardias é a cumplicidade silenciosa", disse Lygia, explicando sua participação.
Durante o lançamento da campanha foram também lembrados casos recentes de execuções extra-judiciais ocorridas no Brasil.
Entre eles estão os 111 presos mortos pela polícia de São Paulo durante o massacre do Carandiru, em 2 de outubro de 1992, os sete meninos mortos na Candelária, no Rio, em 23 de julho de 93, e os 21 moradores de Vigário Geral, assassinados em 29 de agosto de 93.

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