São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Moeda deve ter "âncoras"

DO ENVIADO ESPECIAL

Se dependesse de um consenso entre economistas para fixar as regras de emissão do real, o governo nunca lançaria a nova moeda. Pelo menos é o que se observou na amostra de debates econômicos do 6º Fórum Nacional, no Rio.
Todo mundo concorda que deve haver "alguma" âncora cambial (atrelamento do real ao dolar) e "alguma" âncora monetária (controle da quantidade de moeda em circulação). Mas a coisa complica na hora de definir as tais âncoras.
O ex-ministro da Economia Marcílio Marques Moreira apoiou a tese de Mario Henrique Simonsen, que havia proposta um congelamento da quantidade de moeda em circulação quando da entrada do real. Mais diplomático, porém, Marcílio substituiu "congelamento" por "contingenciamento".
Dá na mesma, porém. A idéia é passar às pessoas a sensação de que o real é moeda estável simplesmente porque o governo está proibido de emitir além de uma determinada quantidade.
Outros economistas acham que a regra é muito restrititiva e que talvez fosse melhor deixar a quantidade de reais vinculada à quantidade de dólares nas reservas do Banco Central. Tendo mais dólares, o Banco Central poderia emitir mais reais.
A maior divergência, entretanto, está na definição da taxa de câmbio. Dionisio Carneiro, da PUC, propõe câmbio fixo, congelado na base de um real igual a um dólar, por tempo indeterminado.
Já Luciano Coutinho, da Unicamp, acha que isso poderia levar rapidamente a uma valorização do real em relação ao dólar, pois haveria alguma inflação em real. Assim, o taxa de câmbio teria que ser flexível, impondo-se ainda controle à entrada de capitais.
Bresser Pereira, no meio, diz que o câmbio deve ser fixo "mas não muito". Acha que haverá valorização do real, mas pequena, não problemática.
E Antonio Barros de Castro acha que a sobrevalorização será inevitável e grave, de modo que o governo precisará controlar a importação, restringir a entrada de capitais e limitar o crédito ao consumidor, para evitar aquecimento de vendas (e pressões inflacionárias) na estabilidade do real.
A equipe econômica, sem representantes no Fórum, continua pensando.

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