São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Três CDs da soprano Barbara Hendricks chegam ao Brasil

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

Saem CDs de Barbara Hendricks
Título: Lieder de Richard Strauss, Lieder de Schubert e La Voix du Ciel (coletânea)
Cantora: Barbara Hendricks
Acompanhantes: Radu Lupu (piano), Sabine Meyer (clarineta) e Bruno Schneider (trompa) no disco com obras de Schubert; Ralf Gothoni (piano), no de Strauss e outros intérpretes na coletânea
Lançamento: EMI (importado)
Quanto: CR$ 30 mil (o CD, em média)

A gravadora EMI importa três títulos em CD da soprano norte-americana Barbara Hendricks, 45. O lançamento acontece por ocasião do recital da cantora neste sábado no Municipal de São Paulo.
Os discos são indicados para quem conseguiu comprar ingresso e queira tomar contato com a arte da cantora antes da apresentação. Ou para aquele que prefere manter distância dos incidentes dos recitais ao vivo.
Barbara impressiona tanto ao vivo como no estúdio. Pelo microfone, sua voz de soprano lírico puro ganha um sussurrado que não se ouve em palco.
A cantora possui abafadores naturais que lhe permitem abordar o repertório do "lied" (canção baseada em poemas em alemão geralmente acompanhada por piano) e da "chanson" francesa impressionista. O disco é adequado ao preciosismo da interpretação da cantora, douta no ataque e no destaque da palavra dentro da melodia.
Ela não é novidade discográfica no Brasil. Teve alguma popularidade nos anos 80. Seu LP com canções do compositor norte-americano George Gerswhin e acompanhamento das irmãs Labèque saiu em 1985 pela Polygram.
Na época, Barbara chamou atenção pelo ecletismo do repertório. Os 80 eram afeitos à justaposição dos registros pop e clássico que ela praticava.
O consumidor brasileiro perdeu os rastros posteriores da cantora, que se concentrou nas diversas ortodoxias, do "lied" ao "negro spiritual", passando bem de raspão pelos modernos.
A maneira pela qual a interpretação de Barbara se adapta aos diversos estilos pode ser notada na coletânea "La Voix du Ciel", que reúne gravações de 1985 a 1993. É uma amostra do catálogo da cantora junto à EMI.
São 16 faixas. Barbara começa com a "Ave Maria", de Schubert, gravada em 1990, continua com "Et Incarnatus Est", de Mozart, em sessão de 1987, a melodia hebraica "Kaddish", de Ravel, de 1988, a canção "C'est l'Extase Langoureuse", de Debussy, em registro de 1985, a "Ária" das "Bachianas Brasleiras nº 5", de Villa-Lobos, e termina com uma balada do musical "My Fair Lady". A sutileza domina.
Fica óbvio que a soprano mantém a forma e a abordagem através dos anos. Não se detém no virtuosismo, mas busca em cada partitura a leitura subjacente. Expressa em Villa-Lobos sua não tão evidente influência impressionista.
O disco é dispensável para os iniciados. Estes encontram pratos mais fortes nos "Lieder", do compositor alemão Richard Strauss (1864-1949), e nos dois volumes dos "Lieder", do austríaco Franz Schubert (1797-1828).
No primeiro, de 1991, Barbara seleciona 22 das 214 peças do compositor. Explora o "spleen" anacrônico de Strauss –espécie de bombeiro pós-romântico pronto a apagar qualquer fagulha atonal que se insinua em suas melodias.
É igualmente hábil em Schubert. Mergulha fundo nos maneirismos contidos do estilo "biedermeyer" (bom-mocismo vienense do início do século 19) e recicla o charme original.
Nesses trabalhos, Barbara se destaca por ser uma intérprete de meios tons e palavras inteiras.

Texto Anterior: Mostras simultâneas expõem 42 trabalhos do fotógrafo da Benetton
Próximo Texto: Sociedade brasileira carece de rancor cívico
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.