São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Peça reúne Gismonti e textos do Padre Vieira

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

Textos do padre Antônio Vieira e música de Egberto Gismonti: esta é a receita da peça "Clamor", que está sendo mostrada no principal palco de Lisboa, o Teatro Nacional Dona Maria 2ª. Financiada em parte pela Lisboa 94 - Capital Européia da Cultura, a peça foi uma adaptação da escritora Luísa Costa Gomes.
A defesa dos índios é o ponto político de união entre o padre Vieira e Gismonti. A peça começa no Maranhão, local em que o padre Vieira foi expulso pelos colonos por defender os índios da escravidão, apresenta o processo que ele sofre perante a Inquisição por defender um melhor tratamento para os judeus e trata de sua atuação na corte da Rainha Cristina da Suécia, no período em que esteve em Roma.
O texto é uma afirmação da modernidade do padre Vieira. Nascido em 1608 em Lisboa, foi pregador real e chegou a representar Portugal como embaixador na França e na Holanda.
Preso pela Inquisição durante 26 meses, foi proibido de pregar e obrigado a permanecer em reclusão até a sua morte, em 1697.
Na peça, Luísa Costa Gomes procura realçar os pontos de atualidade dos textos, como a preservação dos índios ou a defesa de um melhor tratamento para os judeus.
Na música, Egberto Gismonti apreenta o que chamou de "imagem sonora do Brasil étnico". Procurou dar à modinha brasileira o sabor do fado, junto com sons que lembram os índios.
No primeiro andamento, há uma única nota que se prolonga por sete minutos e é tocada por oito instrumentos diferentes –o que chamou de linha do horizonte.
Na representação, ocorre uma substituição da tensão dramática pela declamação.
A música e o cenário conseguem belos efeitos, algumas vezes estragados por alguns adereços, como as personagens vestidas com roupas do século 17, usando óculos escuros.

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