São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Mandela vive "um dia como nenhum outro"

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Mandela sauda "dia como nenhum outro"
Ontem foi, como o provável futuro presidente da África do Sul disse, "um dia como nenhum outro".
Afinal, após meio século de luta contra o apartheid, Nelson Rolihlahla Mandela pôde ver seus compatriotas negros votando pela primeira vez.
Por isso mesmo, Mandela anunciou: "O dia de hoje (ontem) marca a aurora de nossa liberdade".
Mas quem estava à mesa era muito menos o lutador de sempre e muito mais um avô de 75 anos, capaz de confessar: "Gosto de me sentar com os meus netos e de brincar com eles. Pena que esses momentos sejam raros".
Ante uma audiência visivelmente cúmplice de "seu dia como nenhum outro", Mandela deu-se ao luxo de mais acenar para os brancos do que assinalar o sofrimento da população negra.
Em dois momentos diferentes, disse: "Vamos cicatrizar as feridas do passado".
O "vovô" contou também que, além de brincar com os netos, gosta de ficar simplesmente sentado, pensando no passado, "para aprender para o futuro".
Mesmo os atentados terroristas dos últimos, que causaram 21 mortes, não abalaram sua determinação. "Não deixaremos que um punhado de assassinos roube a nossa democracia", fulminou.
Também com os olhos postos no futuro, Mandela procurou de novo tranquilizar os brancos. "Nós precisamos dos brancos deste país para nos ajudar na reconstrução. Eles são parte dessa transformação", afirmou.
Na mesma linha, fez questão de dizer que a participação do Partido Comunista Sul-Africano no Congresso Nacional Africano, que tanto assusta os brancos, é mera decorrência da "oposição comum ao apartheid".
Lembrou que líderes ocidentais como Franklin Roosevelt, Charles de Gaulle e Winston Churchill aliaram-se à então União Soviética, para lutar contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial.
"Nem por isso, eles se tornaram marxistas", ironizou.
Segurança
Foi só durante a coletiva que Mandela esteve com a segurança relaxada. Afinal, todos os jornalistas que entram no salão do Carltons ocupado pelo CNA são previamente vistoriados pela segurança oficial.
Fora dessas ocasiões, a segurança de Mandela só é comparável a de um presidente norte-americano, conforme a Folha apurou. Mas os detalhes são tratados como segredo de Estado.
Hoje, a segurança será submetida a novo teste: Mandela vota na escola Olhlange, nas imediações de Durban, o porto do litoral sul.
Foram tomadas providências para que 1.200 jornalistas acompanham o ato, marcado para as 7h30 (2h30 em Brasília).(CR)

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