São Paulo, quarta-feira, 27 de abril de 1994
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Perversão verbal; Salário, o mínimo; Abraço pernambucano; Banco do Brasil e a inflação; Caderno da Bienal; Mulheres e as Diretas; Questão indígena; Jardim Botânico

Perversão verbal
"Lamento pela divina Conceição: Sempre relevei os destemperos de Maria da Conceição Tavares porque via neles o entusiasmo pelo debate intelectual. No entanto, desde que se lançou na corrida para uma vaga na Câmara dos Deputados, ela passou a atacar velhos amigos, adversários no momento, atingindo suas dignidades pessoais e desqualificando-os como interlocutores. Antevejo nesse triste episódio o perigo de, em vez de discutirmos nossos impasses e nossas angústias, soçobrarmos numa perversão verbal."
José Arthur Giannotti, filósofo, professor aposentado da USP e pesquisador do Cebrap (São Paulo, SP)

Salário, o mínimo
"Extremamente louvável o artigo publicado por esta Folha na edição de 24/04, assinado pelo empresário Antônio Ermírio de Moraes, defendendo a necessidade de o Brasil elevar o salário mínimo para US$ 100. A lúcida exposição do empresário sobre a pesada carga tributária que incide sobre os salários, e que recai indistintamente sobre empresas e trabalhadores, vai ao encontro dos pontos de vista defendidos por mim quando fui ministro do Trabalho. Torna-se cada dia mais urgente rever a carga tributária incidente sobre a folha de pagamento. Espero que deputados e senadores incluam esse tema no leque de propostas que poderão salvar a revisão constitucional."
Walter Barelli, ex-ministro do Trabalho (São Paulo, SP)

Abraço pernambucano
"Tenho lido e acompanhado a atividade intelectual de Marilene Felinto através da imprensa. Desejo felicitá-la e mandar o abraço pernambucano."
Marco Maciel, senador pelo PFL-PE (Brasília, DF)

Banco do Brasil e a inflação
"A propósito do artigo 'O que tira o sono do governo', do jornalista Luís Nassif, publicado em 21/04, nesse jornal, fazendo menção à situação dos bancos estatais 'particularmente do Banco do Brasil', gostaríamos de esclarecer: a) o articulista, fazendo parte de um lobby de fortes interesses, tem sido prodígio nos últimos tempos em fazer registros negativos sobre o Banco do Brasil e seus dirigentes; b) ao contrário do que o jornalista apregoa, esta empresa vem se preparando para enfrentar um cenário novo, de inflação baixa. Desde 1992, quando a atual administração assumiu, o BB mudou o perfil de suas aplicações investindo no setor produtivo recursos superiores a US$ 4 bilhões, direcionando-os para segmento que – embora menos rentável – representa a vocação natural do banco. Daí também por que sua rentabilidade tem sido relativamente baixa, se comparada com a de alguns bancos privados. Entretanto, analistas externos têm constado que a estabilização da economia deverá favorecer a rentabilidade do Banco do Brasil, uma vez que, sem aumentar a a base de funcionários e agências, existe grande potencial para o BB aumentar a prestação de serviços e o volume de crédito. O novo cenário, portanto, afetará todo o sistema financeiro, e a ilação correta é a de que o Banco do Brasil deve estar tirando o sono dos concorrentes."
João Pinto Rabelo, secretário-executivo de Comunicação do Banco do Brasil (Brasília, DF)

Resposta do jornalista Luís Nassif – 1) É surpreendente que porta-voz do maior banco brasileiro seja tão desinformado a respeito dos efeitos da inflação e da estabilidade monetária sobre a rentabilidade do setor financeiro. 2) A análise do balanço do BB indica que a baixa rentabilidade foi fruto de uma política irresponsavelmente pródiga na área de pessoal. 3) O maior lobby que se poderia fazer contra o BB seria não denunciar a gestão temerária empreendida pelas últimas diretorias.

Caderno da Bienal
"Quero parabenizar a Folha pelo caderno especial do dia 24 sobre a Bienal Brasil. É, sem dúvida, para ser guardado. É uma completa aula sobre a arte brasileira no nosso século, relacionando-a, inclusive, ao contexto mundial."
Délia Guelman (São Paulo, SP)

Mulheres e as Diretas
"É louvável a iniciativa da Folha de rememorar o emocionante movimento cívico pelas Diretas-Já no último Mais!. Entretanto, houve um esquecimento imperdoável na cronologia dos fatos, deixando de mencionar o dia 17/04/84, quando milhares de mulheres de todo o país ocuparam o prédio do Congresso Nacional, em Brasília. A manifestação –memorável e inesquecível para todas que dela participamos– foi a 'gota d'água' para a decretação do estado de emergência e registrou a presença das brasileiras na luta pela democracia."
Valéria B. Prochmann, membro do Conselho Estadual da Condição Feminina do Paraná (Curitiba, PR)

Questão indígena
"Depois de ter publicado vários artigos e reportagens 'fantasia' sobre as questões indígena e garimpeira na Amazônia, finalmente a Folha publica um artigo (Janer Cristaldo, 24/04, caderno Mais!, pág. 6-3) lúcido, realista e informativo. Apenas gostaria de acrescentar dois pontos: 1) o nome do livro de Napoleon Chagnon é 'Ianomamo: The Firce People' (o povo feroz); 2) não existe 'W' na grafia de palavras indígenas ou de origem indígena. Isso é uma herança da ação de missionários de língua inglesa. Foneticamente, esses 'Ws', na verdade, correspondem a 'Us'. Assim, o correto é uaimiri-atroari e não waimiri-airoari, caiuá e não kaiowa, uai-uai/wai-wai, uaupes/waupes, uapixana/wapishana, etc. É necessário desanglicizar a nomenclatura indígena brasileira."
João Orestes Schneider Santos (Macapá, AP)

"O artigo de Janer Cristaldo (especial para a Folha) publicado em Mais! (24/04) é absolutamente falso e racista. Se ele duvida do(s) massacre(s) do ianomâmi (e outros!), deveria consultar os sobreviventes que hoje vivem em território brasileiro. Lamentamos profundamente que a Folha dê espaço para uma falsificação grosseira como esta, armada por quem, visivelmente, pretende solapar os direitos indígenas."
Márcio Santilli, secretário-executivo do Núcleo de Direitos Indígenas –NDI (Brasília, DF)

Jardim Botânico
"O ministro Ricupero, em seu discurso de domingo último no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, disse que 'no século passado, ele (o jardim botânico) era parte da idéia de soberania brasileira, como a bandeira e o hino'. Ele (o ministro) estava referindo-se, certamente, ao mais antigo, belo, prestigioso e popular jardim botânico de nossa cidade nos séculos 18 e 19, o Jardim Botânico do Passeio Público, inaugurado em 1783. Um quarto de século antes da criação do jardim de aclimação da Lagoa Rodrigo de Freitas; que era uma estação agrícola acientífica e não orientada para a valorização da flora nativa. Segundo Gastão Cruls, em 1824, frei Leandro do Sacramento, o primeiro diretor dos dois jardins botânicos, dava suas aulas no Jardim Botânico do Passeio Público, obra de Mestre Valentim, onde os visitantes estrangeiros do século 19 apreciavam a flora nativa e a arte brasileira. Martius, o homenageado de ontem no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, anotou em 1817 sua admiração pelo Jardim Botânico do Passeio Público: 'pequeno jardim cercado de pedras que o defendem do mar, e cujas aléias são muito convidativas, quando a brisa marinha lhe suaviza o calor'. Se a 'soberania brasileira' a que se referiu o ministro Ricupero não diz respeito à flora brasileira, então, ele falou mesmo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro no século passado, onde Mary Graham, Gardner e Charles Ribeyrolles anotaram um excesso de plantas exóticas e pouco interesse pela flora do nosso país."
Pedro Paulo Lomba, presidente da Sociedade das Florestas do Brasil (Rio de Janeiro, RJ)

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