São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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Neto do fundador do apartheid apóia Mandela

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Em 1963, logo depois de Nelson Mandela ter sido condenado à prisão perpétua, o então presidente sul-africano, Hendrik Verwoerd, foi perguntado se não temia que Mandela, um dia, se tornasse presidente.
Verwoerd, um dos principais arquitetos do apartheid, disse que não. Primeiro, porque Mandela estava preso e, acreditava ele, ficaria na prisão para sempre. Segundo, porque "Deus não permitiria".
Pouco mais de 30 anos depois, em abril de 1994, outro Verwoerd, Wilhelm, neto de Hendrik (que foi assassinado no Parlamento em 66), ajudou a transformar Mandela em presidente.
Wilhelm, 29, é professor de Filosofia na Universidade de Stellenbosch (na província do Cabo Ocidental) e militante do CNA, o Congresso Nacional Africano do Mandela que seu avô mandou para a prisão perpétua.
Wilhelm justifica sua adesão ao CNA, a partir de 1992, com uma única frase: "A separação de raças é algo errado por princípio".
A decisão do jovem Verwoerd de aderir ao CNA rachou a família ao meio, por inteiro. Ele foi acompanhado pela mulher, Melanie, que, aliás, tem uma posição até mais destacada no aparelho partidário. É da executiva do CNA no Cabo Ocidental.
Mas o pai de Wilhelm, que tem o mesmo nome, ficou tão magoado que nega-se, desde a adesão do filho ao CNA, a conversar com ele.
Wilhelm Verwoerd filho é um dos poucos brancos que fazem parte do CNA. Números a respeito não há, sob a alegação de que o CNA é multirracial e, portanto, não conta seus membros a partir da cor da pele, como diz Carl Niehaus.
Niehaus, em todo o caso, é outro branco (e loiro) que faz parte do CNA. Como porta-voz oficial, tornou-se a segunda figura de maior visibilidade, logo após Mandela.
(CR)

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