São Paulo, sábado, 30 de abril de 1994
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Política e preconceito afastam eleitores das urnas

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL

Política e preconceito afasta eleitores das urnas
Os primeiros cômputos indicam que votaram até mais negros do que se supunha existirem. Não houve bomba ou fila que fizesse os eleitores perderem a primeira oportunidade na vida para votar.
Mas pelo menos dois negros tomaram a decisão de não ir votar, mesmo que não houvesse filas ou bombas. São Lerato Monnakgotla e seu fiho Kgosimang.
"A unidade do povo oprimido é o que nos salvaria, não o interesse pessoal de indivíduos que simplesmente querem governar, ter poder e agir contra seu próprio povo em nome de proteger a democracia", diz Lerato.
Ela era a noiva de Abraham Ongopotse Tiro, defensor da África do Sul como "um país para o homem negro", morto por uma carta-bomba em seu exílio em Botswana, em 1974.
O filho Kgosimang, que está no último ano de Direito na Universidade do Norte, é membro do Azapo (iniciais em inglês de Organização do Povo Azaniano, nome africano para o país).
A Azapo é um grupo socialista, cujas raízes datam dos anos 60, quando ressurgiu a resistência ao apartheid.
Sem mencionar diretamente Nelson Mandela e o CNA, Lerato diz que se está dando "mais prioridade aos receios dos brancos do que às genuínas aspirações do povo negro".
Mas há também quem não votou por motivos de absoluta futilidade. É o caso de Dianne de Vries, loira de Viljoenskroon, bastião da extrema direita branca a 200 km de Johannesburgo.
Não que Dianne seja da extrema direita. Se fosse, sequer teria se dado ao trabalho de comparecer a um colégio eleitoral.
Ela foi, mas encontrou uma enorme fila, composta principalmente por negros que moram no vizinho subúrbio de Rammulotsi.
Dianne perguntou ao monitor da CEI: "Tenho que ficar na fila com essa gentinha?" O monitor respondeu que sim. Ela desistiu de votar. O voto é voluntário.
(CR)

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