São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994 |
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Candidato tenta manter imagem de trabalhador
JOSIAS DE SOUZA
Aparentemente casual, o gesto é, na verdade, estudado. A fricção de mãos serve para que Lula exponha um defeito que carrega desde os 18 anos: a ausência do dedo mindinho em sua mão esquerda, amputado pela prensa de uma fábrica de parafusos. Com isso, o candidato do PT espera reforçar algo cada dia mais apagado da memória do eleitorado: a imagem de um Lula operário. No imaginário que o candidato petista deseja despertar, o dedo ceifado remete aos sacrifícios da juventude. Aproxima-o da maioria do eleitorado pobre. Lula cultiva sua imagem com zelo. O candidato fez ouvidos moucos para os pedidos de sua atual mulher, Marisa, para que raspasse a barba. Ele acha que o rosto peludo serve para conservar viva a aparência do trabalhador que já não é. O candidato permitiu-se apenas uma concessão estratégica: providenciou para que a barba fosse aparada, de modo a livrar-se do assustador desalinho sindical. Um ano antes, o então metalúrgico arriscou um bigode. Só depois de habituar-se a ele, deixou que crescesse a barba. Em 82, Lula disputou as eleições para o governo de São Paulo. Sob o argumento de que desejava tornar válidos os votos dados a Lula, Luiz Inácio da Silva incorporou oficialmente o apelido ao nome. O apelido eterniza o operário na certidão de nascimento do candidato. O ex-retirante despontou nas portas de fábrica do ABC não como Luiz Inácio, mas simplesmente como Lula. O codinome foi dado pela sua mãe, Eurídice. Lula teve outros dois apelidos que faz questão de esquecer: "Baiano", uma referência às raízes nordestinas, e "Taturana". Estes sim foram idealizados pelos colegas de linha de montagem. Texto Anterior: Petista é político profissional há 13 anos Próximo Texto: Lula percorre 30 mil km em campanha Índice |
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