São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Tamanho do Estado é a principal divergência

CLÓVIS ROSSI; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de não estar definido nas propostas de governo, o percurso até o idílico e unânime objetivo dos programas –o crescimento com justiça social– é o ponto onde começam a surgir as primeiras divergências entre os candidatos.
Para exemplificar: cada um dos partidos tem sua concepção própria de até onde o Estado deve interferir na vida da sociedade para fazer o bolo crescer e, ao mesmo, tempo dividi-lo.
As opiniões nessa área se agrupam em dois campos. O PPR, PFL e PL preferem dar ênfase à privatização e deixar a tarefa do crescimento praticamente nas mãos da iniciativa privada.
PSDB, PDT e PT têm em comum pelo menos o fato de concederem ao poder público o papel de induzir e coordenar o crescimento.
Menos Estado
O PFL, pela palavra de seu presidente, o ex-senador Jorge Bornhausen, acha que é "preciso diminuir o Estado por meio de privatização".
O PPR, afirma Fetter Júnior, vai um pouco na mesma direção. O seu modelo de desenvolvimento passa "pelo crescimento sustentado a partir da iniciativa privada". Deixa para o Estado "concentrar todos os seus recursos na infraestrutura social".
O PMDB de Sarney desenha um Estado no qual "o problema não é o tamanho, mas a sua finalidade. Tem que ser grande e forte, mas não para entrar em áreas em que não deve atuar. Deve se dedicar totalmente ao social", afirma o ex-presidente.
Estado coordenador
Já o PSDB, a pregação é um pouco diferente. "Nós acreditamos no mercado, mas não como rei absoluto", diz Tasso Jereissati.
O PDT vai um pouco mais longe. "O Estado deve ser forte e deve ter uma capacidade de ação para direcionar e indicar novas estratégias", afirma Hésio Cordeiro
O PMDB de Quércia decreta a morte de políticas "indiscriminada de subsídios", mas acrescenta: "A busca de competitividade tem que ser amparada por uma enérgica ação do Estado sobre os fatores de competitividade sistêmica. Isto é: oferta de crédito a prazos e juros compatíveis, formação de mão-de-obra, investimento e infraestrutura e em educação".
Com restrições maiores ou menores à interferência do Estado, os candidatos reconhecem que o investimento público em pelo menos um setor, a educação, é fundamental, ainda mais quando se pensa nas experiências de crescimento rápido dos "tigres asiáticos".
O PL, por exemplo, propõe o cheque-educação. Caberia ao pai escolher onde gastar seu cheque, em escola pública ou particular. A qualidade de ensino passaria a ser uma questão de sobrevivência para a escola.
Finalmente, o PT pede para o Estado, pela voz de Marco Aurélio Garcia, "um papel indutor, mas também novas formas de organização do setor público".
O petista sonha com empresas públicas que não sejam necessariamente estatais, acenando com a participação dos fundos de pensão em empresas que se dediquem não apenas à infraestrutura mas até a produção de bens de consumo.
Mesmo entre os dois partidos (PT e PDT) que dão mais força ao papel do Estado, há divergências. Não coincide, por exemplo, a lista dos setores que poderiam ser considerados estratégicos.
Renda mínima
Em meio a divergências, anote-se, em todo o caso, uma crescente convergência em torno do programa de renda mínima do senador Eduardo Suplicy.
Há adeptos da idéia, mesmo que com outras nomenclaturas e outros formatos, no PPR, no PSDB e no PMDB. Flávio Rocha, do PL, diz, porém, que o potencial de corrupção da proposta a desqualifica.
(CR e JCO)

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