São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Retórica do crescimento iguala partidos

CLÓVIS ROSSI; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A questão social disputa com a necessidade de retomada do crescimento econômico espaço na retórica dos candidatos.
"O novo nove da esperança é desenvolvimento", chega a proclamar, grandiloquente, o ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, um dos três candidatos à prévia que indicará o candidato do PMDB. No vocabulário do PT, crescimento também ocupa espaço privilegiado.
"Tenho claro que a crise de nosso modelo de desenvolvimento é profunda. Por esta razão, temos apresentado propostas para construir uma alternativa de crescimento que leve em conta o novo quadro mundial, o atraso em que se encontra nosso sistema produtivo, mas também o enorme potencial que possuímos para uma retomada futura", acha Luís Inácio Lula da Silva, seu candidato presidencial.
Números
No PPR, o crescimento está até quantificado para o perído de 1995/2000. "É meta do partido obter um crescimento de 50% do PIB (Produto Interno Bruto, medida da riqueza nacional) ou cerca de 8,3% ao ano", diz o folheto "Brasil-Século 21 - Reencontro do Progresso e a Cidadania", base do programa do partido.
No PL, fala-se em outro número: 8% do PIB. É o que se gasta hoje, avalia Flávio Rocha, com a burocracia para o pagamento de impostos. Com a implantação do Imposto Único, este montante poderia ser utilizado na melhoria dos salários, no aumento da competitividade e no crescimento.
Outro que fala em salários é o ex-governador Roberto Requião, um dos pré-candidatos do PMDB. Para ele, a alternativa para o crescimento passa por reverter um velho axioma: "Agora é preciso repartir o bolo para poder crescer".
'Tudo pelo social'
A frase serve para mostrar que, tanto quanto crescimento, o slogan "tudo pelo social", utilizado durante a gestão Sarney (1985/90), inunda a retórica de campanha e permeia todos os programas – na verdade, pré-programas.
Basta, para comprovação, citar os dois partidos que supostamente são os extremos do arco partidário, o PPR e o PT. "Combater a fome com produção, a miséria com trabalho e dar oportunidade de vida digna para todos os brasileiros", é o objetivo número um a ser atingido pelo PPR no próximo período presidencial, conforme as diretrizes programáticas.
No caso do PT, "os grandes temas nacionais, aqueles que têm de estar prioritariamente na agenda de todo político com um mínimo de seriedade e compromisso social, são o desemprego, a fome, os menores que pernambulam pelas ruas, as catástrofes de nossa educação e saúde", afirma Lula.
A questão social, aliás, entrou na agenda de um organismo (o BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento) que era apontado pela esquerda brasileira como um núcleo de insensíveis burocratas.
Relatório do BID apresentado no início de abril diz: "O crescimento econômico e a modernização tendem a não ser sustentáveis na ausência de estabilidade política e social, as quais, por sua vez, dependerão de uma distribuição mais equitativa do crescimento".
O social, portanto, deixou de ser um apêndice para se tornar central mesmo na retórica de um banco que, obviamente, não precisa disputar eleições.

Texto Anterior: Mudar economia é mais difícil
Próximo Texto: Tamanho do Estado é a principal divergência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.