São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994 |
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País vende suco, soja e pouca tecnologia
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
País vende suco, soja e pouca tecnologia O melhor caso de sucesso recente da indústria brasileira é o suco de laranja. Os fabricantes locais, de capital nacional e também estrangeiro, respondem por mais de 70% das exportações mundiais de suco concentrado. O produto é bom na qualidade e no preço. Outros fabricantes, como os israelenses, têm que adicionar suco brasileiro em seu produto para atender exigências de paladar dos consumidores. E mesmo tendo que pagar para entrar nos Estados Unidos uma sobretaxa de US$ 450 por tonelada, o suco brasileiro compete bem com o produto da Flórida. Indústria fraca Mas esse caso mostra também a fraqueza da indústria brasileira hoje. O suco de laranja é uma comodity - como minério de ferro, óleo de soja, celulose, alumínio. Nestes produtos, o Brasil também é competitivo, segundo dados do Estudo da Campetitividade da Indústria Brasileiraa (ECIB), recém-concluído pelos departamentos de economia Universidade Estadual Paulista (Unicamp) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pela Fundação Dom Cabral e Fundação de Comércio Exterior, sob coordenação do professor Luciano Coutinho. A commodity é um produto de primeira elaboração industrial. Sua competitividade depende mais do acesso à matéria-prima e menos de conhecimentos tecnológicos. Tem menos valor, portanto, que o produto final entregue ao consumidor. Não existe, por exemplo, nenhuma marca brasileira dominando o mercado mundial de suco de laranja. Nenhuma empresa multinacional brasileira conquistou os mercados mundiais. O produto brasileiro faz a fama de outras marcas e dá dinheiro para companhias que pegam o suco concentrado, acrescentam água e outros componentes, embalam e distribuem pelo mundo todo. Está aí um dos grandes pecados da industrialização brasileira, quando comparada à história de outros países em desenvolvimento. Não se criaram condições para a formação de megacompanhias capazes de atuar no mundo todo. A Coréia do Sul protegeu sua indústria de computadores, como Brasil protegeu a sua. Mas hoje há computadores coreanos sendo vendidos no mundo todo, com marca coreana, enquanto os brasileiros não prestam nem aqui. A preocupação com a inserção internacional sempre levou os países asiáticos a protegerem sua indústrias, mas com prazo limitado e exigindo em contrapartida a capacidade de competição internacional. Não foi o caso brasileiro, quase sempre dominado pela ideologia do mercado interno. Hoje, verifica-se que o mercado interno poder ser grande, mas é pobre e concentrado. Um modelo de automóvel, por exemplo, para ter escala boa de produção, tendo, em consequência, bom preço, precisa vender no mínimo 200 mil. Os mercados tornaram-se necessariamente mundiais, eliminando a distinção entre produção voltada para dentro e para exportação. Educação O Brasil, ainda em relação aos países asiáticos, cometeu outro grave engano: não cuidou do sistema educacional. Hoje, quando a mão-de-obra desqualificada e barata dá lugar ao trabalhador que precisa lidar com o computador, o Brasil compete com enorme desvantagem. Finalmente, o país, em seus diversos governos recentes, não cuidou de criar um ambiente de pesquisa e produção tecnológica, nem de garantir a infra-estrutura para a atividade industrial. Texto Anterior: PL dá ênfase à pequena e média empresa Próximo Texto: Estatal não conseguiu enfrentar concorrência Índice |
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