São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994 |
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Palmeiras haverá de perdoar Edmundo
ALBERTO HELENA JR.
Nada mais atual, passado quase meio século. Há quem compare Edmundo a Almir, o Pernambuquinho. Nem de longe: Almir era um guerreiro de sangue fervente, que não media as consequências, até o fim. Edmundo esquenta, apronta, mas, quando esfria, refugia-se numa dissimulada melancolia, indisfarçável pena de si mesmo, vítima permanente de sombrias e inexplicáveis perseguições. O Palmeiras –ou a Parmalat–, não importa, haverá de perdoá-lo mais uma vez, sobretudo se o tricolor hoje der a volta por cima sobre seu rival. Aí, sob a pressão da torcida, ninguém haverá de impedir o perdão, pela décima vez. Como diria Noel: pela décima vez, ele está inocente, nem sabe o que fez. O diabo é que, desta vez, os seus companheiros também estão pela tampa com Edmundo, que, nos seus delírios, chegou ao cúmulo de tomar a bola dos pés de Rincón e de Evair, na hora do gol, para perdê-la em seguida. Mas, no futebol, sacumé, um drible, um gol, uma jogada inspirada e decisiva bastam para sepultar todos os ressentimentos. Na quarta-feira, o São Paulo tomou um vareio do Palmeiras. Se o jogo terminasse 6 a 0 no primeiro tempo não seria mais que o fiel espelho da partida. Parte porque o Palmeiras jogou com extremo empenho e raro talento. Parte porque o tricolor entrou em campo mal escalado por Telê, que tentou consertar logo após, com a entrada de Vítor na lateral e a passagem de Cafu para o lugar de Jamelli. Por fim, pela inexpressiva atuação das duas maiores estrelas tricolores –Leonardo e Cafu. Esta tarde, por força da suspensão de Axel, já começa melhor no papel, com Vítor na lateral e Cafu no meio. Mas é hora de Telê dar um toque de classe nesse meio-campo com Válber e voltar com Palhinha mais à frente, que esse jogo vale o campeonato. Conheço bem o Jairo dos Santos, nosso espião na Copa, desde quando Cláudio Coutinho o levou para a seleção, há 18 anos. Trata-se de um verdadeiro conhecedor e estudioso do futebol, que, na sombra, se aprofunda até as entranhas nos segredos desse maravilhoso jogo da bola. Não é exibido, nem superficial. Portanto, o que diz deve ser levado em conta, tanto pelos analistas quanto pelos diletantes, mas, sobretudo, pela comissão técnica à qual Jairo presta serviços. Surpreende-me, pois, que suas observações feitas à Folha, sobre como deve ser jogado o futebol moderno, conflitem tanto com a realidade da nossa seleção. Jairo privilegia a habilidade, não só dos atacantes, mas, principalmente, dos homens que vêm de trás. Não me parece ser o caso, por exemplo, de Ricardo Gomes e Dunga. Outro ponto fundamental: não mais do que 11 toques na bola –ou 15 segundos de posse do balão– para se chegar ao gol inimigo é a sua receita. Traduzindo: o meio-campo é um corredor, pelo qual se passa rapidamente em direção à meta contrária. Pois Parreira cultiva a tese de que o meio-campo deve ser composto por jogadores que toquem e toquem, ao estilo, digamos, de Gérson, o Canhotinha de Ouro. Ecos de um passado glorioso. Infelizmente, apenas ecos. Texto Anterior: Supertimes definem o seu futuro Próximo Texto: Palmeiras busca detalhes para vencer Zetti Índice |
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