São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Palmeiras haverá de perdoar Edmundo

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

"In the Mood", que embalou os sonhos das teens dos anos 40, ao som de Tommy Dorsey, por aqui ganhou uma versão gaiata do Betinho e seu Conjunto, nos 50, que dizia mais ou menos assim: "O Edmundo nunca sabe bem o que faz/ Ele é um sujeito distraído demais.../ É demais, eu tenho pena do rapaz.../ Todo mundo diz que o Edmundo não tem jeito não".
Nada mais atual, passado quase meio século. Há quem compare Edmundo a Almir, o Pernambuquinho. Nem de longe: Almir era um guerreiro de sangue fervente, que não media as consequências, até o fim. Edmundo esquenta, apronta, mas, quando esfria, refugia-se numa dissimulada melancolia, indisfarçável pena de si mesmo, vítima permanente de sombrias e inexplicáveis perseguições.
O Palmeiras –ou a Parmalat–, não importa, haverá de perdoá-lo mais uma vez, sobretudo se o tricolor hoje der a volta por cima sobre seu rival. Aí, sob a pressão da torcida, ninguém haverá de impedir o perdão, pela décima vez. Como diria Noel: pela décima vez, ele está inocente, nem sabe o que fez.
O diabo é que, desta vez, os seus companheiros também estão pela tampa com Edmundo, que, nos seus delírios, chegou ao cúmulo de tomar a bola dos pés de Rincón e de Evair, na hora do gol, para perdê-la em seguida.
Mas, no futebol, sacumé, um drible, um gol, uma jogada inspirada e decisiva bastam para sepultar todos os ressentimentos.

Na quarta-feira, o São Paulo tomou um vareio do Palmeiras. Se o jogo terminasse 6 a 0 no primeiro tempo não seria mais que o fiel espelho da partida. Parte porque o Palmeiras jogou com extremo empenho e raro talento. Parte porque o tricolor entrou em campo mal escalado por Telê, que tentou consertar logo após, com a entrada de Vítor na lateral e a passagem de Cafu para o lugar de Jamelli. Por fim, pela inexpressiva atuação das duas maiores estrelas tricolores –Leonardo e Cafu.
Esta tarde, por força da suspensão de Axel, já começa melhor no papel, com Vítor na lateral e Cafu no meio. Mas é hora de Telê dar um toque de classe nesse meio-campo com Válber e voltar com Palhinha mais à frente, que esse jogo vale o campeonato.

Conheço bem o Jairo dos Santos, nosso espião na Copa, desde quando Cláudio Coutinho o levou para a seleção, há 18 anos. Trata-se de um verdadeiro conhecedor e estudioso do futebol, que, na sombra, se aprofunda até as entranhas nos segredos desse maravilhoso jogo da bola.
Não é exibido, nem superficial. Portanto, o que diz deve ser levado em conta, tanto pelos analistas quanto pelos diletantes, mas, sobretudo, pela comissão técnica à qual Jairo presta serviços.
Surpreende-me, pois, que suas observações feitas à Folha, sobre como deve ser jogado o futebol moderno, conflitem tanto com a realidade da nossa seleção. Jairo privilegia a habilidade, não só dos atacantes, mas, principalmente, dos homens que vêm de trás. Não me parece ser o caso, por exemplo, de Ricardo Gomes e Dunga.
Outro ponto fundamental: não mais do que 11 toques na bola –ou 15 segundos de posse do balão– para se chegar ao gol inimigo é a sua receita. Traduzindo: o meio-campo é um corredor, pelo qual se passa rapidamente em direção à meta contrária. Pois Parreira cultiva a tese de que o meio-campo deve ser composto por jogadores que toquem e toquem, ao estilo, digamos, de Gérson, o Canhotinha de Ouro. Ecos de um passado glorioso. Infelizmente, apenas ecos.

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