São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
FILÓSOFO

Sempre tive muitas dúvidas a respeito de transformar filosofia em disciplina obrigatória no 2º grau. Favorável a uma descentralização do ensino, não vejo porquê enrijecer ainda mais o currículo mínimo válido para todo o país. Em 2º lugar, não creio que até mesmo os interesses da corporação de professores de filosofia sejam beneficiados com a nova medida.
Seria muito importante saber, por exemplo, como anda a filosofia no secundário de nosso Estado de São Paulo. Não consegui dados que informassem quantas vagas existem na rede e quantas são efetivamente ocupadas por professores formados em filosofia. Mas há indícios.
O Censo Educacional do Ministério informa que em 1991 houve 1.307 concluintes em filosofia em todo o país. E o Conselho Estadual de Educação declara que, segundo o relatório final do concurso de remoção relativo a 1991, existiram 14.803 aulas disponíveis.
Como uma vaga é criada numa escala quando no mínimo se dispõem de 16 aulas, pode-se concluir que no máximo haveria 925,19 vagas. Mas em São Paulo, no ano de 1991, apenas 318 alunos concluíram seus cursos de filosofia. Já na rede existem 1.716 professores habilitados.
Tudo parece indicar pois que uma boa parte desses professores não são titulados em filosofia. Minha pergunta continua a ser: estamos capacitados para fornecer bons professores de filosofia para o 2º grau ou estaremos abrindo vagas para toda sorte de aventureiro lecionar filosofia? Isto sem pensar na qualidade dos cursos existentes.
Com dados tão impreciso, mantenho pois minha posição: sou contra a obrigatoriedade dessa disciplina em São Paulo e, com muito mais razão, em todo o país, já que corremos o risco de criar mais uma disciplina de papagaios falando sobre Aristóteles ou Descartes, se chegarem a tanto.

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