São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O BEABÁ DO PENSAMENTO

Cresce a aplicação do método Filosofia para Crianças

BERNARDO CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Para as crianças da periferia de São Paulo, Aristóteles se chama Ari dos Telles.
Enquanto se debate a volta do ensino da filosofia ao segundo grau, algumas escolas de primeiro grau (particulares e da rede pública) tomam a dianteira em todo o país, de Florianópolis a Cuiabá, aplicando o método do filósofo americano Matthew Lipman.
Criado a partir do final dos anos 60, o programa chegou ao Brasil em 85 pelas mãos da professora Catherine Young Silva, fundadora do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, que tem sede em São Paulo.
Desde 88, o centro formou 2 mil professores que aplicam a disciplina extracurricular num trabalho de militância pedagógica.
Só em Santa Catarina, 16 escolas já adotam o método hoje. Em 1991, 30 escolas estaduais da periferia de São Paulo passaram pela experiência com resultados positivos, segundo professores e alunos.
Este ano, devido à alta rotatividade de professores na rede pública, o número de escolas estaduais que usam o método Filosofia para Crianças como um incentivo à investigação e às capacidades cognitivas dos alunos foi reduzido a menos de 10 na zona leste da cidade.
A experiência consiste em discutir e refletir em grupos –que Lipman chama de "comunidades de investigação"– a partir de pequenos romances escritos para crianças sobre temas e conceitos tratados por grandes pensadores ao longo da história.
Os nomes dos filósofos não são jamais mencionados. As questões são colocadas dentro de situações familiares e reconhecíveis para as crianças, "traduzidas" para seu dia-a-dia.
Ari dos Telles, por exemplo, é um menino com espírito investigador que, a partir de um engano, de um erro em uma aula de ciência –uma inversão de frases–, descobre as regras da lógica.
"O texto trata da questão do silogismo, entre outras, mas sem mencioná-la. Você não está fazendo conferências sobre a história do pensamento, mas ensinando as crianças a pensar por conta própria", diz Ana Luiza Falcone, diretora do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças.

Texto Anterior: Primavera já é bom
Próximo Texto: Aula discute o significado do medo e da razão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.