São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994
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Volume inicial sintetiza e 'atualiza' questões

ALBERTO ALONSO MUÑOZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Volume inicial sintetiza e `atualiza' questões
O primeiro volume de "História da Filosofia", de Marilena Chaui, é a prova de que um texto voltado para o 2º grau, de poder sintético sem ser simplificador, pode ser coerente sem ser doutrinário e pode incitar ao pensamento sem tornar a história da filosofia um mero conjunto de "opiniões" expressas pelos seus autores.
Não é dos méritos menores do livro o fato de haver evitado a solução fácil de começar pelas questões de método e pela exposição do que é a filosofia tendo em vista sua história.
Ao invés disso, Marilena Chaui introduz o leitor diretamente nas questões clássicas da história da filosofia, começando pela exposição das interpretações antagônicas sobre seu surgimento na aurora da Grécia clássica. Chaui por assim dizer "vai direto ao assunto", combinando perspectivas diversas sobre os temas tratados.
Nem por isso a forma deixa de ser a tradicional: uma parte para o surgimento da filosofia e para os pré-socráticos, outra para Sócrates e os sofistas, uma para Platão e, finalmente, um capítulo final dedicado a Aristóteles. Forma clássica dos manuais didáticos de história da filosofia, desde Bréhier e, se quisermos recuar mais, desde Hegel ou mesmo Kant.
A originalidade consiste na atualização das interpretações, reunindo, na medida do possível, materiais colhidos do "estado atual da questão", como os historiadores costumam dizer.
Aqui reside também –no equilíbrio de perspectivas diversas – um segundo mérito do livro: nele procuram ser contemplados os diversos focos possíveis de exame das doutrinas filosóficas.
Se o aspecto político do pensamento de Platão é sempre posto em relevo, nem por isso são menosprezados os elementos epistemológicos, lógico-linguísticos e metafísicos da doutrina, cuja relação com a teoria das paixões e com a ética e a política platônicas é imediata.
Ainda aqui, o livro se esforça por evitar reduções simplistas de uma perspectiva à outra, que só contribuiriam para encerrar a apresentação numa interpretação dogmática e avessa ao debate.
O especialista talvez acabe insatisfeito com este primeiro volume. Lembremo-nos, contudo, de que se trata de um livro pré-universitário e não nos esqueçamos da envergadura do projeto, suficientemente amplo para que ninguém seja capaz de realizá-lo no seu todo com a mesma profundidade.
Ainda assim, o livro não deixa de surpreender. Manuais, mais ou menos bem elaborados de introdução à filosofia não faltam –o mesmo não se pode dizer das boas histórias da filosofia editadas em língua portuguesa.
E talvez resida aqui a única ressalva: com a educação no estado de precariedade em que se encontra no Brasil, que condições reais tem este livro de ser aproveitado no ensino de 2º grau e até mesmo em certos cursos superiores? Infelizmente, bem poucas.

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