São Paulo, domingo, 1 de maio de 1994 |
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Os dois lados do conflito se reúnem em bar
SÉRGIO MALBERGIER
Com um suntuoso teto de madeira trabalhada, ambiente esfumaçado e barulhento e muita cerveja, o Crown fica na região central da cidade, onde católicos e protestantes trabalham juntos. Depois do trabalho eles vão beber no Crown, mas quase sempre em grupos separados. "Este é um dos poucos lugares onde não sentimos a divisão entre as duas comunidades", diz James Hamilton, 33, protestante. Mas no resto da Irlanda do Norte há um abismo quase intransponível entre católicos e protestantes. Quanto mais pobre a região, maior o sectarismo. Nas regiões mais ricas há bairros mistos, mas é uma convivência apenas geográfica, não interativa. Se o fim da Guerra Fria derrubou o Muro de Berlim, às vésperas do século 21, 13 muros erguidos com base em ódios religiosos de séculos ainda permanecem firmes em regiões pobres de Belfast, separando as comunidades católica e protestante. Praticamente todo o sistema educacional é segregado, com exceção das universidades. As crianças de uma religião só conhecem crianças de sua mesma religião. Grainne McCafferty é diretora de uma escola de segundo grau em Londonderry (norte), cidade de maioria católica. Com mais de 40 anos, ela disse que praticamente nunca teve relacionamento com protestantes. No exterior, ela conta, se um irlandês encontra outro, a primeira coisa que fazem é tentar saber qual a religião do outro, "para se sentir à vontade sobre o que falar". Para ela e quase todas as pessoas de diferentes origens ouvidas pela Folha na Irlanda do Norte, "não adianta forçar a integração" entre católicos e protestantes –deveria acontecer "gradualmente". Em quanto tempo? "Duas ou três gerações", prevê McCafferty, levando para o século 21 um conflito religioso que teve início no século 17. (SM) Texto Anterior: Conflito é histórico Próximo Texto: Israel e OLP precisam resistir aos fanáticos Índice |
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