São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Prost culpa dirigentes por `pesadelo'

ANDRÉ LAHOZ
DE PARIS

O tetracampeão de Fórmula 1 e ex-rival de Ayrton Senna, o francês Alain Prost, disse ontem que "o pesadelo de Imola é a demonstração da irresponsabilidade que reina hoje na Fórmula 1".
Prost estava ontem na Itália para comentar a corrida para a televisão francesa TF1. Antes do anúncio da morte do brasileiro, Prost, emocionado, falou à televisão francesa.
"Foi um fim-de-semana incrível", afirmou o francês. "Três acidentes graves com consequências diversas: um piloto morto, outro que escapou por milagre e, por último, um que luta pela vida."
Sobre Senna, Prost disse: "Ele foi meu rival, e muitas vezes foi até mais do que rival. Mas é um piloto, como eu fui por tanto tempo, e somos ambos apaixonados pelo automobilismo."
Prost considera que havia uma diferença entre os dois. "Senna dedica ao automobilismo 100% de sua vida. Talvez 110%. Eu nunca fui tão longe, talvez tenha dedicado 85% ou 90%."
Apesar dos problemas entre os dois, Prost estava feliz pela mensagem que Senna havia gravado para ele, na qual afirmava sentir sua falta.
"Foi uma mensagem muito simpática de Ayrton. Tudo o que posso dizer é que espero que ele se salve. Espero que não tenha sequelas graves e que possa voltar à sua vida normal. Mesmo que não possa mais correr, que ele se salve."
Após o anúncio da morte do brasileiro, Prost se recusou a fazer qualquer comentário.
Prost disse que os acidentes evidenciam que é preciso voltar a pensar no problema da segurança dos pilotos. "Todos esses problemas não acontecem à toa. Nos esquecemos de pensar na segurança. Quando os carros estão naquela velocidade, não há muito o que fazer se algo dá errado."
Para Prost, os avanços tecnológicos estão direcionados exclusivamente para melhorar o espetáculo. "O objetivo não é fazer uma corrida mais segura, mas uma corrida melhor para o público. Há dois anos que não se fala mais em segurança."
Em entrevista à emissora italiana RAI, Prost disse: "Hoje existe uma desunião enorme entre os pilotos. Eles se tornam, assim, vítimas diretas dos desejos e vontades de patrocinadores, organizadores e empresários."
Nessa mesma entrevista, Prost afirmou: "É muito importante que se saiba que a Fórmula 1 hoje é um `grande business', um negócio de enormes proporções, que move quantias gigantescas de dinheiro. É um escândalo ver todos esses acidentes após tudo o que foi dito".
"Há quem diga que isso faz parte do esporte. Eu considero que isso é um escândalo. É certo que a Fórmula 1 é um esporte perigoso e sempre o será, mas isso não quer dizer que não se pode fazer nada para diminuir o perigo."
O francês fez uma previsão para o fim do campeonato: "Quando eu falava do problema da falta de segurança na chuva, diziam que eu exagerava. É certo que vamos ter problemas nas próximas corridas com chuva."
Para Prost, a tragédia de ontem exige uma ação conjunta dos pilotos para mudar as atuais regras.

* Com agências internacionais

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