São Paulo, segunda-feira, 2 de maio de 1994
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Arquitetos projetam "prédio ecológico"

PABLO PEREIRA
EDITOR DE IMÓVEIS

Os arquitetos Antônio José Gonçalves Júnior, 30, e Frederico Carstens, 28, criaram um novo conceito de arquitetura e urbanismo: a permeabilidade vertical.
Eles desenvolveram um projeto de prédio com "furos", que permite uma melhoria na ventilação e iluminação solar em áreas muito adensadas das grandes cidades.
A construção de edifícios altos lado a lado estaria, segundo eles, gerando um fenômeno que chamam "efeito paredão" –a incidência de doenças em moradores de destas áreas devido à concentração de poluentes.
O projeto ecologicamente correto tem 28 andares, 150 apartamentos de três quartos e está sendo construído no bairro Batel (zona oeste de Curitiba).
Eles venceram um concurso da Associação dos Engenheiros e Arquitetos da Prefeitura, realizado em janeiro em conjunto da Universidade Livre do Meio Ambiente, uma ONG (Organização Não-Governamental) de Curitiba, sobre gestão urbana.
Formados pela Universidade Federal do Paraná, vão a Halifax (Canadá) e Nova York em julho expor o projeto. Veja a seguir, trechos da entrevista:

Folha - O que é permeabilidade vertical e "efeito paredão"?
Antônio Gonçalves Jr. -
A permeabilidade é uma forma de continuar o adensamento urbano, só que com qualidade de vida.
O que chamamos de "efeito paredão" é um conjunto de fatores decorrentes da verticalização, que gera problemas como falta de iluminação solar, ventilação, visualização e pode afetar a saúde.
Folha - Quais são os problemas? Quais são os problemas?
Frederico Carstens - São problemas respiratórios e estresse. Casos como de rinites alérgicas são imensos nas grandes cidades. Há incidência de asma, além de problemas como cheiro ruim na roupa e mofo nas paredes.
Outro caso é a falta de luz solar em determinadas áreas. Há torres de edifícios que fazem sombra nos outros. Os vazios funcionam nesses casos. Permitem que os raios solares atinjam prédios vizinhos.
Folha - Qual é a proposta?
Gonçalves Jr. – A gente propõe que, além dos recuos laterais exigidos pela legislação, existam também vazios ao longo do bloco.
Os "furos" criam condições para ventilação e iluminação natural, melhoram a acústica e permitem maior visualização. Esses espaços podem ser transformados em áreas de recreação e praças.
Folha - A permeabilidade vertical diminui consumo de energia?
Carstens - Nos países ricos, esses problemas são resolvidos com equipamentos que consomem muita energia, como desumidificadores, despoluidores ambientais, ar-condicionado, inviável para o Terceiro Mundo.
Com a própria arquitetura, se resolve o problema, sem consumir de energia. Mofo e umidade são dispersados com o vento.
Essas concentrações de problemas não ocorrem em áreas arejadas. Com os vazios, a fluidez do ar fica total.
Folha - Como é que ocorrem essas concentrações?
Carstens - Durante o dia, a cidade recebe cargas de calor. Como não existe ventilação, essa carga se acumula. No final da tarde, com a queda de temperatura, não ocorre a dispersão desse calor.
Se toda a malha urbana tivesse vazios nos prédios, o ar fluiria melhor, haveria dispersão do calor e poluentes atmosféricos.
Folha - Como viabilizar um projeto que elimina áreas que poderiam ser vendidas? Há aumento de custo em relação `a construção convencional?
Carstens - Se for uso individual, por exemplo, o apartamento de baixo pode ganhar uma cobertura, um terraço. Nesse caso, o que se gasta ali é uma impermeabilização a mais para o jardim. Na laje superior, um forro de material poroso, como gesso com boa resistência às intempéries.
Mas você não está gastando com paredes e instalações hidráulicas. Então, o custo é muito pequeno. E quais são as vantagens?
Se for de apartamentos, você está vendendo uma unidade de cobertura a mais sem estar na cobertura. Se for de uso comum, terá área de recreação, que você ia mesmo ter que construir em outro lugar do edifício.
Você pode pegar essa área de recreação, que normalmente é concentrada, e distribuir ao longo do prédio. O potencial construtivo perdido pode ser transferido para áreas menos adensadas.
No caso do Tower Club, que está em construção, o proprietário perdeu as unidades que estariam nos "furos". Mas as vantagens que os donos receberam se tornaram um "plus".
Folha - A permeabilidade vertical pode ser usada em paredões comerciais?
Carstens - Nossa proposta pode ser aplicada não só ao uso comercial, como também ao público. Imagine uma rua comercial que esteja muito congestionada. Sem lugar para pessoas.
Folha - O projetos exige mudanças de legislação?
Carstens - Só no sentido de incentivar. Esse jardim que você cria no meio do prédio é considerado como área construída.
Folha - Como foi a participação no concurso?
Carstens - O projeto do prédio é anterior ao concurso. Decidimos participar depois de fazer um estudo com especialistas em diversas áreas, que ratificaram a nossa idéia. A partir disso, apresentamentos a monografia.

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