São Paulo, terça-feira, 3 de maio de 1994
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Fascistas são favoritos em eleição britânica

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O avanço do fascismo no continente europeu tem uma oportunidade nesta semana de cruzar o canal da Mancha e chegar ao Reino Unido.
Nas eleições locais de quinta-feira, o neofascista Partido Nacional Britânico (BNP) pode assumir pela primeira vez o controle de um conselho regional de Londres e de seu orçamento de cerca de US$ 60 milhões.
Desde setembro passado, quando o BNP venceu uma eleição complementar no distrito de Tower Hamlets (leste de Londres), os ataques de motivação racista contra a população asiática local cresceram 60% na região. A área é um bairro decadente da cidade, depois que foram desativadas as docas locais.
Jovens de origem asiática, a maioria de Bangladesh, já criaram grupos de autodefesa e patrulham as ruas da região tentando evitar as agressões dos grupos neofascistas que agem no bairro.
Mas os antifascistas muitas vezes usam da violência também. Dois membros do BNP foram parar no hospital em março após serem agredidos pelas patrulhas de autodefesa.
Imagem
Como ocorreu na recente eleição na Itália, os neofascistas britânicos estão querendo passar uma imagem mais "respeitável". Antes das eleições, estãç moderando a retórica racista e afastando os skinheads mais radicais da campanha.
O BNP concentra sua campanha em acusações contra os partidos Trabalhista e Liberal Democrata, as duas principais forças eleitorais da região.
Alega que eles têm uma política de beneficiar os imigrantes em detrimento da população de origem britânica, principalmente na concessão de habitações em casas de propriedade do conselho com aluguel subsidiado.
Legislação
No complicado sistema eleitoral britânico, a cidade de Londres está dividida em 32 conselhos distritais autônomos.
Tower Hamlets criou ainda subdistritos, cada um com seu orçamento próprio. O BNP já tem uma das cinco cadeiras do sub-distrito de Millwal.
Se a mantiver e ganhar mais duas, vai poder gastar livremente os US$ 60 milhões e de Millwal criar uma vitrine política para se expandir no resto do país e tentar chegar ao Parlamento.
Alguns discordam. "Nós estamos vacinados contra o fascismo", disse à Folha o deputado trabalhista Peter Shore, lembrando os anos de resistência britânica contra o avanço nazista na Europa durante a Segunda Guerra (1939-45).
Já para o professor de política Tony Travers, da London School of Economics, o sistema eleitoral distrital dificulta a emergência de pequenos partidos.
Segundo ele, as habitações populares (e consequentemente a população mais pobre) estão bem espalhadas, impedindo concentração de eleitores "mais vulneráveis" à propaganda do BNP.

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