São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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O truque dos ausentes

JANIO DE FREITAS

A farsa da revisão constitucional já ultrapassou todos os limites. O território em que ela se desenrola deixou de ser, há muito tempo, o do Congresso para ser o do cinismo. A continuidade da farsa, com mais um capítulo planejado ontem pelos líderes dos partidos falsamente revisionistas, a esta altura se explica como expediente barato para disfarçar a inatividade parlamentar.
Estão invertidos, de fato, os termos da equação farsante: não é mais o malandro esvaziamento do Congresso que impede a revisão, mas a inviabilidade da revisão que passou a ser usada, com as alegadas tentativas de superá-la, para acobertar o esvaziamento injustificável do Congresso. A cada suposta tentativa, os líderes do PFL, PSDB, PPR e PMDB ganham mais uma ou duas semanas para disfarçar a inatividade fartamente remunerada dos seus parlamentares. E deles próprios.
O custo destes sete meses de farsa, que se estão completando nesta semana, talvez seja incalculável. Mas o que foi gasto com os parlamentares e suas mordomias, com a caríssima infra-estrutura e a manutenção do Congresso, por certo está na casa dos bilhões de dólares. Para nada.
Nem todos os crimes estão no Código Penal.
Complemento
As entidades não-governamentais, as chamadas ONGs, que planejam um estardalhaço internacional contra a demissão do tenente-coronel Walmir Brum de um comando da PM do Rio, não estão incluindo no seu dossiê um documento interessante. Seu nome oficial é Registro de Ocorrência, leva o número 1366 e foi redigido em 20.8.88 na 52ª DP–RJ.
Diz o documento que o trabalhador "Mário Cordeiro da Silva, brasileiro, de cor preta, casado", teve que ser "socorrido no Hospital S. José com ferimentos nos olhos e região lombar". Vítima de agressão. Duas testemunhas, uma delas soldado da PM, compareceram à polícia. Uma delas informou que o agressor costumava fazer "uso de arma de fogo ameaçando os seus vizinhos".
O "acusado: Valmir Brun, major-PM, RG 21.106- PM2 EM". O hoje tenente-coronel que as ONGs elevaram a injustiçado campeão de direitos humanos.
Economia
No faz e refaz o Orçamento da União, no corta daqui e corta dali, a Fazenda aproveitou para engordar a sua verba pela segunda vez. Agora, em meio bilhão de dólares.
Deve ser sobra do que foi cortado nas verbas para saúde e educação.

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