São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Campanha vive primeira crise

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A campanha de Fernando Henrique Cardoso vive sua primeira grande crise. Sob reserva, lideranças do PFL e do PSDB criticam-se mutuamente.
A tensão interna contrasta com o otimismo que FHC tenta vender em público. Longe dos holofotes, alguns dos aliados do ex-ministro mostram-se desanimados.
Avalia-se que FHC demorou a deslanchar a campanha. Perdeu um mês em conturbadas negociações com o PFL. Teme-se uma queda de popularidade do candidato.
Os primeiros entendimentos entre tucanos e pefelistas foram, de resto, considerados desastrosos por negociadores das duas partes.
Ao final da fase de hesitações, vetos e recusas, escolheu-se um vice que não é o preferido de ninguém, nem mesmo do PFL.
A cúpula do PSDB teme que o partido tenha assumido o ônus da aproximação com o desgastado PFL, sem obter o lucro político que desejava.
Os tucanos não contam, por exemplo, com o apoio entusiasmado de Antônio Carlos Magalhães, ex-governador da Bahia.
ACM declara reservadamente que, por ora, não planeja arregaçar as mangas por FHC.
ACM não digeriu o veto do PSDB ao nome do filho, Luís Eduardo Magalhães, o primeiro cogitado para fazer par com FHC.
Há um consenso no comando do PFL: a demora para a escolha do vice mostra que o PSDB tem com o PFL um relacionamento envergonhado.
Além de ACM, Jorge Bornhausen, Marco Maciel e Luís Eduardo acham que FHC não negociou bem. Depois do veto ao filho de ACM, rejeitou-se o nome de Bornhausen, presidente do PFL.
Afirmou-se que o vice deveria ser do Nordeste –Bornhausen é de Santa Catarina. O PFL passou a defender o nome de Marco Maciel. O PSDB queria Gustavo Krause ou Roberto Magalhães.
Krause e Magalhães não obtiveram o sinal verde de ACM. Maciel, temendo novo veto dos tucanos, declinou em favor de Guilherme Palmeira.
FHC foi forçado a aceitar a indicação. Um novo veto poderia inviabilizar a aliança.
Circula de mão em mão no PFL uma pesquisa feita por encomenda da CNI (Confederação Nacional das Indústrias). O levantamento mostra que FHC tem penetração nula no eleitorado pobre.
A pesquisa mostra o equívoco da escolha de Palmeira. O ponto fraco de FHC é o Nordeste.
Um vice da Bahia ou de Pernambuco teriam somado mais do que Palmeira, de Alagoas, um colégio eleitoral menor.
A pesquisa, feita há um mês, anota um complicador: o candidato mais bem-cotado nas classes baixas, consideradas essenciais, é Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Outro nome com boa aceitação junto ao público miserável é o de José Sarney, que disputa com Orestes Quércia o direito de concorrer à Presidência pelo PMDB.

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