São Paulo, quinta-feira, 5 de maio de 1994
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Justiça guarda criança que matou irmãs

DA REPORTAGEM LOCAL

O menor A.S.S, 11, que assassinou na segunda-feira a noite, em Poá, suas irmãs Vanessa, 9, e Monaliza, 4, está sob guarda da Justiça, internado em uma instituição para menores carentes da cidade.
O enterro das crianças aconteceu ontem às 10h no cemitério de Poá (40 km a leste de São Paulo).
Além dos familiares, compareceram colegas de trabalho do pai das vítimas, José Waldemir Cordeiro Silva, 34, que é encarregado de obras na construtora Cotisa, de São Paulo.
As meninas foram mortas com golpes de martelo. A.S.S. disse ao delegado Ivaldo Teixeira que matou as irmãs porque elas não queriam ajudá-lo a lavar a louça.
Segundo o juiz interino da Vara da Infância e Juventude de Poá, Odair Sanna, a criança deverá ficar na instituição até o fim do inquérito. Ele não revelou o nome da instituição porque o caso corre sob segredo de Justiça.
A.S.S. não será condenado pela morte das irmãs. Ele é considerado inimputável (não pode ser responsabilizado pelos seus atos) por ser menor.
Os pais também não devem ser culpados. Em casos semelhantes, a Justiça tem levado em consideração o fatos dos pais serem pobres e não poderem pagar alguém para cuidar dos filhos enquanto trabalham.
"Brigas normais"
Segundo o pai das crianças, seu filho nunca praticou violência contra suas irmãs. "Eles só tinham aquelas brigas normais de criança", disse ele na delegacia.
Segundo depoimento da mãe das crianças, Maria Gomes dos Santos, ela chegou em casa às 18h de segunda-feira e encontrou as duas meninas espancadas e desacordadas.
Elas foram levadas com vida para o pronto-socorro da cidade, mas não resistiram aos ferimentos.
Em seu depoimento na delegacia, A.S.S. disse que não pretendia matar as irmãs, mas que ficou nervoso quando viu elas sangrando, e agiu com medo que elas contassem a agressão aos pais.
No começo, o menino negou qualquer participação no crime. Disse que passou a tarde fora de casa. A policia desconfiou dele, uma vez que as vizinhas da família não viram nenhum estranho entrar na casa, e ele acabou confessando.
Para a psicanalista Mirian Chnaiderman, A.S.S. "não deveria estar conseguindo liberar a violência –normal nas crianças– na forma de jogos e brincadeiras".
Segundo ela, quando isso ocorre, as crianças podem "perder a medida da realidade", confundindo o desejo de violência com as noções sobre o que é certo ou errado.

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