São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
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O canditado popular

JANIO DE FREITAS

O candidato popular
A passagem de Fernando Henrique pelo Rio, ontem, trouxe a contribuição mais valiosa, até agora, para entendê-lo como candidato e, por consequência, entender o que em geral se toma como as dificuldades crescentes de sua candidatura.
"O povo", revelou ele, "não quer que você tenha boas intenções. Quer que você chegue lá". Mas, neste caso, quereria que o candidato chegue à Presidência para quê, se não tem boas intenções? Este aspecto algo enigmático é compensado, porém, pela carga de originalidade sociológica contida naquela conclusão de Fernando Henrique. Os clamores e as iniciativas pela moralização são um equívoco de interpretação do que o brasileiro quer e Fernando Henrique descobriu. Está tudo errado e não é de agora: o afastamento de Collor foi um erro, pois ele tanto atendia ao povo quanto a intenções, como havia chegado lá. Entende-se enfim –e quero ser o primeiro a retirar as referências críticas a respeito– o motivo que levou Fernando Henrique a ser tão absolutamente omisso durante todo o processo contra Collor.
Dispensadas as boas intenções, o candidato se propõe a instaurar uma forma de governo também original. Nisto, aliás, derruba um dos argumentos com que adeptos de sua candidatura têm justificado a aliança PSDB–PFL. Não se trata, para Fernando Henrique, de constituir em torno de um programa comum uma base política que dê condições de "governabilidade" ao governo. "Quem vai dar as regras do jogo sou eu". E exemplificou: "como ministro da Fazenda, nós demos o tom, os outros dançaram a música". Os pefelistas não são mais do que dançarinos na aliança, portanto. Na verdade, nem só eles transformarão o Congresso em cabaré, caso seja eleito o candidato tão modernizante: "Eu não vou fazer acordo nem com o meu partido, nem com nenhum outro, nem sobre quem será o ministro disso ou daquilo".
Os pefelistas e petebistas talvez venham a achar que o seu candidato não está com boas intenções. Mas nem poderão reclamar: o seu candidato lhes responderia que ele está com o povo, que "não quer boas intenções".
Agora está claro que as dificuldades de Fernando Henrique, com o PSDB e o PFL, são provenientes de incompreensão dos insatisfeitos, sobre o que são o povo e um candidato verdadeiramente popular.

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