São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
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Collectors exibe art déco

CARLOS E. UCHÔA FAGUNDES JR.ESPECIAL PARA A FOLHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na próxima segunda, a Galeria Collectors abre uma exposição de pequenas jóias da escultura art déco realizadas pelo mestre romeno radicado em Paris, Demetre Chiparus (1886-1947).
Na ocasião, será lançado o livro "Chiparus – Master of Art Déco", escrito pelo pesquisador e colecionador Alberto Shayo, argentino que vive em Nova York e tem se dedicado a desvendar esse artista famoso entre os colecionadores, mas de vida misteriosa.
A excelente qualidade da mostra e do livro repõe em foco esta produção que é, em certo sentido, o cruzamento do objeto de arte com o artefato utilitário. Segundo Shayo, Chiparus é a quintessência do art déco, traduzindo em decoração elementos das vanguardas artísticas e o cotidiano dos loucos anos 20 e 30. Com cerca de 20 peças, esta mostra é inédita no mundo pelas raridades que reúne.
Longe de serem um luxo supérfluo para quem deseja conhecer um período histórico através de sua cultura material, os produtos das artes-decorativas ou artes-aplicadas são elementos importantes, que fazem a ponte entre a arte e os objetos utilitários.
As figuras de Chiparus arrastam alguns elementos formais do academicismo "pompier" do século passado, com seu luxo orientalizante, mas também incorporam rastros do cubismo e do futurismo, que abrem nosso século. Inserem-se no movimento de simplificação das formas perseguido pela corrente art déco, como resultado de uma estética utilitária que tinha em mente a industrialização.
Expressa em mobiliários, tecidos, vidros (cujo mestre é René Lalique), e outros infinitos itens, esta corrente se fixou como estilo coerente na "Exposition Internationale des Arts Décoratifs et Industriels Modernes", realizada em Paris em 1925.
Os trabalhos de Chiparus fazem parte deste conjunto de artefatos "modernos" que se encadeavam pelo sentido utilitário da decoração. Reproduzem a cena parisiense daqueles anos, agitada pelos Balés Russos de Diaghilev, onde dançavam Nijinsky, Fokine, Balanchine, com música de Stravinsky e cenários de Picasso.
Também trazem a experiência marcante do music hall, com seus ritmos empolgantes. São estatuetas feitas na técnica chryselephantine (do grego chrysos, ouro, e elephantinos, marfim), que combinam bronze, marfim, ônix, mármore e outros materiais.
Seria difícil definir exatamente os limites entre a arte, a artesania e o design. Shayo diz que "a parte artesanal está na confecção do modelo em argila. Mas o que diferencia a arte da arte-decorativa é a questão do `lugar' e do `uso'. O objeto de decoração era feito pensando no lugar em que ia ficar. Era comprado numa loja de departamento, nunca numa galeria."
Mas hoje, décadas depois, são tomados como objetos de museu, num tempo em que as artes-aplicadas e as artes-decorativas há muito deixaram os "institutos de artes e ofícios" e submergiram sob o encanto do design tecnológico.
Shayo diz que as criações de Chiparus se diferenciam de todos os seus coetâneos pela elegância, pelos detalhes perfeitos do design e pelo profundo amor que nutria pelas mulheres.
"Escolhia sempre os melhores ângulos delas, as melhores roupas, o momento certo, como numa foto instantânea. Também usava a melhor combinação dos materiais para obter esses efeitos."

Exposição: Esculturas de Chiparus
Evento: lançamento no Brasil do livro "Chiparus – Master of Art Deco", edição em inglês. Autor: Alberto Shayo, 176 páginas, Abbeville Press
Quando: Segunda, 9 de maio, 20h. Exposição até 21 de maio. De segunda a sexta, das 10h às 19h, e sábados, das 10h às 14h
Onde: Collectors (r. Dr. Mello Alves, 369, Jardins, tel. 011-852-4805)

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