São Paulo, sábado, 7 de maio de 1994
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Política é assim

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – A candidatura de FHC parece que está indo para o brejo. Perdeu o gás –e muita gente acredita que é por causa da escolha do vice, da aliança com o PFL e da inflação em URV. Creio que não é por nada disso. A candidatura do ex-ministro implodiu no momento em que Itamar Franco, talvez com boa intenção, nomeou um funcionário apartidário para a Fazenda. Não importa que o nome de Ricupero tenha sido "um" dos possíveis candidatos de FHC. Mas não era, evidentemente, o número um.
A política é mais traiçoeira do que a Fórmula 1. Lembro uma pergunta que fiz a JK, quando com ele trabalhava na edição de suas memórias. Eu queria saber qual o momento mais delicado de sua vida pública, excetuada a fase pós-64 –que JK não quis incluir em suas recordações.
Citei-lhe alguns momentos dramáticos, como as revoltas de Jacareacanga e Aragarças, as crises que depuseram dois presidentes (Carlos Luz e Café Filho) para que ele pudesse tomar posse. JK discordou do meu diagnóstico. O pior momento tinha sido ao deixar o governo de Minas Gerais para candidatar-se ao Catete. "Felizmente" –disse-me ele– "eu havia escolhido para vice-governador o Clóvis Salgado, em quem confiava e ao qual destinei um ministério no meu governo. Dois dias depois de ter deixado o Palácio da Liberdade, antes mesmo de começar as primeiras viagens da campanha, senti a traição geral. O PSD, que homologara minha candidatura, através do Benedito Valladares queria tomar conta do Clóvis. Veja bem, o PSD não queria me derrubar, nem havia tempo sequer para a apresentação de um novo nome. O Benedito, com o PSD atrás, queria apenas apoderar-se do governo de Minas, essas coisas miúdas, delegado, diretora de grupo escolar, coletoria. Se não fosse o Clóvis, eu não teria chegado à Presidência".
Serve como parábola da vida pública. Quando FHC não fez o sucessor no ministério, começou a adernar como candidato. Isso não significa que Ricupero seja desleal. Mas é um funcionário, parece que nunca teve partido, errando ou acertando não saberá manejar as complicadas relações de delegados, professoras e coletores. Ainda bem.

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