São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Ministro ameniza risco de recessão

GUSTAVO PATÚ; SÔNIA MOSSRI; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, disse ontem a representantes do setor financeiro que medidas de contenção ao crédito, se adotadas, virão somente após a criação da futura moeda, o real.
Segundo o relato de banqueiros que almoçaram com Ricupero, o ministro utilizou um tom ameno para se referir à necessidade de conter a alta do consumo.
O ministro prometeu que será mantido um nível mínimo de atividade econômica e não haverá recessão.
Pela exposição feita por Ricupero aos banqueiros, só haveria medidas de contenção para setores que, após 1º de julho, mostrassem alta do consumo.
Sua equipe, porém, estudava restrições de caráter mais amplo. Até a semana passada, a equipe econômica avaliava, em reuniões reservadas, que seria preciso um forte controle do crédito após o real.
No Banco Central, por exemplo, falava-se em um "arrocho brutal" do volume de dinheiro em circulação.
O governo enfrenta pressões políticas contra as medidas para contenção do consumo, consideradas impopulares.
O ex-ministro da Fazenda e virtual candidato à Presidência pelo PSDB, Fernando Henrique Cardoso, é contrário às medidas de contenção.
FHC e a cúpula do PSDB consideram o controle do crédito "antipático" e prejudicial à campanha do senador paulista. Diminuiria o entusiasmo popular pelo plano no período decisivo para o candidato.
Ricupero, embora tenha se manifestado contrário a interferências políticas na condução do plano, acena com um controle brando do crédito quando conversa com empresários e banqueiros.
"O ministro nos garantiu que esse não é um plano recessivo, o que é um alívio", disse ontem o presidente da CNIF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), Léo Cochrane Júnior.
FHC e Ricupero usam os mesmos argumentos técnicos para dizer que não há grande risco de alta do consumo: o plano não trouxe ganhos reais aos salários, as empresas não estão operando com plena capacidade e os juros estão altos.
Pela equipe econômica, no entanto, o presidente do Banco Central, Pedro Malan, o secretário executivo da Fazenda, Clóvis Carvalho e o assessor especial Edmar Bacha, acham necessário um controle do crédito pelo menos no primeiro mês após o real.
Eles temem a repetição do fenômeno ocorrido no Plano Cruzado, editado em fevereiro de 1986, quando a queda da inflação gerou alta do consumo, provocando novas pressões sobre os preços.
Ontem, o presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Alcides Tápias, também foi moderado ao falar das medidas de controle do crédito.
Tápias –que na semana passada disse considerar o controle necessário– ontem disse esperar "a manutenção da atual liberdade para o crédito".
Ele argumentou que a economia já está "desaquecida" (com pouca atividade).

Colaborou Liliana Lavoratti

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