São Paulo, quinta-feira, 12 de maio de 1994
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Brasil esquenta os tamborins na Alemanha

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Todo início de outubro, escritores, editores, livreiros e leitores fanáticos têm os olhos voltados para a Alemanha, onde se realiza, em Frankfurt, a feira de livros mais importante do mundo editorial.
Cada ano, um país tema ganha as atenções da mídia e do mercado, homenagem que se traduz no empréstimo de um espaço de 3.100 metros quadrados, no ponto central da feira, e de suporte para a realização de eventos relacionados à cultura desse país.
Este ano, nossa nação zumbi estará em foco: o país-tema é o Brasil. Os "trommeln" (tambores) já estão roncando.
A feira que, na década de 80, foi palco de grandes tensões e leilões milionários, quando ávidos editores chegaram a negociar com os manuscritos de um autor à mão, ganhou lucidez: a maioria das compras é realizada com antecedência e os adiantamentos cabem numa máquina de calcular.
Frankfurt, berço de Goethe, é um tédio, com seu centro histórico para turista ver; cidade sem cultura de porão, vive de um passado glorioso. Enquanto a feira, em si, é de uma chatice sem tamanho, é nos bares e hotéis que se pode praticar o chamado exercício literário.
A cidade perdeu o St. Johns Inn, bar ponto de encontro e de conquistas amorosas que mudou de dono e de frequência, mas restam os bares dos hotéis Continental, Marriott, e do sofisticado Steigenberger Frankfurt Hof, onde se hospedam os escritores best sellers.
Em 1988, eu tomava um coquetel no Steigenberger com Tom Wolfe, que acabara de publicar "Fogueira das Vaidades", quando passou Umberto Eco.
Fomos apresentados sem eu saber se o chamava de Umberto ou de Eco. E passam Sidney Sheldon, Ken Follett, e você pensa que está flutuando nas entranhas da seção de livros mais vendidos de um jornal. Bacana, não?
Mas não espere muito se você se arriscar a ir. A maioria dos escritores não tem senso de humor. São tímidos, formais, detestam conversar com leitores e têm se mostrado mais preocupados com o interesse de Hollywood por suas obras que com novidades estilísticas.
Para piorar, a galinhagem acabou. O editor Pedro Paulo de Senna Madureira, um "habitué", compara: "Namorava-se muito no passado. Hoje é quase conventual."

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