São Paulo, sábado, 14 de maio de 1994
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Bordon pode discutir sociedade na Justiça

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma decisão judicial tomada esta semana pode levar os sócios do grupo Bordon a discutir a participação acionária do grupo na Justiça.
Na quarta-feira o juiz José Maria Simões de Vergueiro, da 19ª Vara Cível de São Paulo, encerrou o processo em que João Euclydes Bordon pedia informações sobre os registros da empresa.
A intenção de João Euclydes era ter acesso aos livros e provar que tinha participação maior que os 2,14% apontados nos registros da empresa.
A diferença, segundo ele, teria sido provocada por irregularidades administrativas. Entre elas se encontrariam algumas subscrições de ações desproporcionais à participação de cada sócio.
A ação começou em outubro de 1993. Segundo o juiz, o objetivo de ter acesso aos registros foi alcançado logo de início, com a concessão de uma liminar.
O encerramento do processo não altera a distribuição das ações, mas João Euclydes deve se valer da perícia judicial feita durante o processo para pedir revisão da composição acionária.
A perícia apontou que a participação de João Euclydes seria de 9,45%. Ele está afastado dos negócios do grupo há 14 anos, diz seu filho, João Paulo Bordon, 37.
Vice-presidente do grupo, João Paulo representa os interesses do pai na empresa.
Segundo ele, a participação correta de João Euclydes estaria em torno de 30%.
Isso porque a perícia judicial não entrou na área contábil, o que poderia apurar novos erros que alterassem a distribuição do capital.
Ao examinar o processo, esta semana, o juiz entendeu que a liminar havia atendido o objetivo da ação. Encerrou o processo e determinou que o grupo Bordon arcasse com as custas.
O valor das despesas (advogados mais perícia) ainda depende de avaliação contábil. Pode chegar a US$ 150 mil.
Recurso
O escritório Lazzareschi de advocacia, representante do Bordon na ação, informa que deve entrar nesta segunda-feira com recurso contra a sentença.
Trata-se de um "embargo de declaração", pelo qual os advogados pedem ao juiz explicações sobre a decisão. O pedido não tem poder de mudar a decisão.
Para os advogados, o juiz se omitiu ao não analisar alegações da defesa. Uma delas seria a de que, pela lei, um acionista com menos de 5% não teria direito a pedir informações sobre os registros.
O Lazzareschi argumenta ainda que parte das operações que João Euclydes considera irregulares ocorreu quando ele ainda participava da administração.
Além disso, argumentam os advogados, a maioria desses atos são antigos e não mais estão sujeitos a contestação. O prazo legal para pedidos de revisão é de dois anos.
Na avaliação dos advogados do escritório, o juiz deixou de analisar o mérito da ação –o direito de João Euclydes pedir a "exibição" dos livros.
O Lazzareschi representa o sócio majoritário do grupo, Geraldo Bordon (cerca de 80%) e seu filho, Júlio. Geraldo, tio de João Euclydes, é presidente do conselho de administração do grupo.
O grupo Bordon tem dívidas de cerca de US$ 100 milhões. Segundo João Paulo Bordon, a maior parte vence em quatro ou cinco anos e a situação das empresas é "tranquila".
Mesmo assim, em meados de abril, um dos frigoríficos controlados pelo grupo Bordon, o Swift Armour, pediu concordata. O grupo não revela o total da dívida específica desse frigorífico.
Apesar da concordata, a empresa mantém suas exportações de carne, estimadas em 3.000 toneladas mensais. De janeiro a abril deste ano, a exportação rendeu à Swift US$ 10,5 milhões.
Maior frigorífico de abate de bovinos do país, o Bordon faturou US$ 340 milhões em 1993.
No ano passado a empresa pôs a venda uma de suas fábricas de processamento de carne por US$ 120 milhões.

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