São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 1994
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Radicais do PT vão pressionar candidato

GUSTAVO KRIEGER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Controlar o PT será o primeiro problema de Luiz Inácio Lula da Silva, se for eleito presidente da República.
Os grupos radicais do partido preparam uma ofensiva para exigir que o eventual governo do PT atenda suas reivindicações.
A bancada do PT na Câmara dos Deputados é um foco de rebeliões. A maior parte dos deputados foi eleita por setores corporativos e assumiu compromissos eleitorais com suas bases que são mais radicais que o programa de governo do PT.
O lobby mais forte é do movimento dos sem-terra. Organizado em todo o país, o movimento tem uma bancada de cinco deputados, que espera dobrar este ano.
O deputado Adão Pretto (PT-RS), eleito pelo movimento, diz que "os sem-terra tem o compromisso de Lula de assentar 800 mil famílias em seu governo".
Na convenção nacional do PT, Lula lutou para que este compromisso não entrasse no programa. O candidato considera inexequível esta meta.
Segundo cálculos do próprio movimento dos sem-terra, para assentar 800 mil famílias, Lula teria que desapropriar 16 milhões de hectares, uma área 5,5 vezes maior que a do Estado de Alagoas. O custo destes assentamentos seria de US$ 6,4 bilhões.
Os sem-terra esperam que Lula garanta este compromisso logo nos primeiros meses de governo. Se isto não acontecer, já decidiram deflagrar o maior conjunto de invasões da história do movimento, para forçar o PT a agir.
Pelo menos 15 dos 36 deputados federais do PT tem sua base eleitoral no funcionalismo de estatais. Estes parlamentares se uniram para pressionar Lula a rever todo o programa de privatização no setor público.
Esta proposta assusta Lula. Ele teme que o radicalismo contra as privatizações afaste da campanha segmentos da classe média e empresários.
Na convenção que definiu seu programa de governo, Lula conseguiu aprovar uma formulação moderada sobre o assunto, que admite a privatização de empresas "não estratégicas".
O deputado João Paulo (PT-MG) diz que "o programa do PT é apenas conceitual. Lula terá que rever seus objetivos quando chegar à Presidência".
Ele diz que "a privatização da Usiminas, por exemplo, foi um negócio danoso ao país e tem que ser cancelado". Esta posição vai ser defendida em bloco pelos deputados ligados às estatais.
Mais servidores
O lobby do funcionalismo conseguiu incluir no programa do PT a defesa da estabilidade no emprego para os servidores públicos. A deputada Maria Laura (PT-DF), eleita pela categoria, quer ir mais longe e defende a contratação de mais servidores.
"O serviço público no Brasil ainda é pequeno e tem que atender as necessidades reais do país", afirma.
O deputado Paulo Paim (PT-RS), que é um dos parlamentares mais ligados ao sindicalismo da CUT, adianta que os sindicatos exigirão que Lula implante "no primeiro mês de governo", o salário mínimo de US$ 100, para trabalhadores e aposentados.
O Ministério da Previdência diz que o governo não tem condições de pagar este valor. Paim diz que isto "é ilusão".

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